Segurança - Prisão do Serial Killer de Goiânia Segurança - Prisão do Serial Killer de Goiânia | Page 2

8 O POPULAR GOIÂNIA, quinta-feira, 16 de outubro de 2014 Serial killer Encontradoporcoincidência Polícia tinha características de suspeito, mas não sabia a sua identidade até abordá-lo em avenida investigados pelo mesmo dele- gado, o adjunto da Delegacia de Repressão a Narcóticos (De- narc),EduardodoPrado. Galtiery Rodrigues A Polícia Civil não tinha a identidade do suspeito. A pri- são do vigilante Tiago Henri- que Gomes da Rocha, de 26 anos, suposto serial killer res- ponsável pela morte de mulhe- res em Goiânia, foi uma coinci- dência. “Um ato de Deus mesmo”,comodefineodelega- do titular da Delegacia Esta- dualdeInvestigações de Homi- cídios (DIH), Murilo Polati. Até então, a investigação apontava característicasfísicasdosuspei- to, elementos que identifica- vam a moto, o mapeamento de outros crimes, como assaltos e furto de placas, e os locais por ondeelepoderiapassar. Aterça-feira(14),coinciden- temente, foi o primeiro dia que a polícia dobrou o efetivo para fazer rondas e campanas em pontos estratégicos. Cerca de 150 agentes e delegados foram escalados. Menos de meia hora antes da prisão, havia acabado uma reunião da força-tarefa e uma equipe da Inteligência da Polícia Civil saiu para monito- rar a parte norte da Avenida Castelo Branco. Minutos de- pois do início da tarefa, um dos agentes percebeu as caracterís- ticas compatíveis de um moto- queiro e a equipe o abordou, le- vando-oparaadelegacia. Deu-se início, com isso, ao fimdeumainvestigaçãoqueco- meçou com a numeração de uma placa anotada pelo segu- rança de um bar, onde uma das Suspeito mudava cordemoto Tiago Henrique: roubo de placas para a prática dos crimes vítimas foi morta. Na noite do dia 8 de maio, Janaína Nicácio deSouza,de24anos,foiassassi- nada no Buteko da Mainha, no Jardim América. Um vigia do local anotou a placa da moto que o assassino utilizava: NKP 6144. Coincidentemente, exis- tia um registro de furto dessa placa, cometido por um ho- mem,conformeregistrouascâ- merasdecircuitointerno,noes- tacionamentodeumsupermer- cadonoCentrodacapital. Nas imagens, ele aparece semcapaceteeandandocalma- mente, sem se intimidar pelas pessoas que passavam em vol- ta. Como noticiou O POPULAR na edição do dia 8 de agosto, as mesmasimagensforammostra- dasparaonamoradodaadoles- centeIsadora Cândida dosReis, 15, principal testemunha da morte e que estava com ela no momento do crime, que ocor- reu no dia 1º de junho, no Setor São José. Ele reconheceu o sus- peito. Isso levantou a possibili- dade inicial de relação entre trêsdoshomicídios. O terceiro caso é a morte da recepcionistadeacademiaBru- na Gleycielle Gonçalves, 27, que foi assassinada na mesma noite de Janaína Nicácio, com um intervalo de cerca de 1 hora e20minutos,enquantoespera- va pelo ônibus em um ponto da Avenida T-9. A polícia sempre cogitou a relação das mortes dasduasmulheres,emrazãodo modo de agir do assassino, das características da moto e pelo fatodeteremsidonamesmare- gião. Tanto, que os casos foram A Secretaria de Segurança Pública negava, até ontem, a existência de um serial killer no caso das mortes de mulheres e de um grupo de extermínio de moradores de rua. Moradores de rua Ao todo, 59 moradores de rua foram mortos na região metropolitana desde 2008, sendo 33 entre agosto de 2012 e o mesmo mês de 2013. Até o dia 20 de outubro do ano passado, 20 suspeitos foram identificados e apenas 11 inquéritos remetidos ao Judiciário. Destes casos, a participação do policial militar Rogério Moreira da Silva, o Zinca, está comprovada em três assassinatos de moradores de rua. “Temos pelo menos cinco casos aguardando medidas sigilosas que podem nos apresentar situações diferentes. Podemos ter maníaco, traficante matando de forma corriqueira, mas, enquanto não tivermos prova, não vamos afirmar”, dise, na época, o delegado Murilo Polati. O titular da DIH negava ainda a atuação de grupo de extermínio. Ele ressaltava que muitos moradores de rua pegavam drogas com traficantes e usavam, em vez de vendê- la. Também acreditava que o número de moradores de rua mortos poderia ser maior. “Se fôssemos contabilizar todas as mortes, seria muito mais. Antes tratava morador de rua apenas como usuário de drogas”, observou na época. Mulheres No caso das mulheres, a negativa sobre o serial killer foi reforçada após o surgimento de áudios divulgados pelo aplicativo Whatsapp em agosto deste ano sobre a existência do matador em série. “Nós temos a convicção de que não é uma única pessoa (a matar as vítimas), mas também não podemos excluir essa possibilidade por completo, porque ainda estamos investigando”, afirmou no dia 2 de agosto o delegado Murilo Polati, titular da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH). Em meio ao registro de mortes de mulheres, áudio de pessoas dizendo que haviam sido informadas da atuação de um serial killer, bem como orientando moças jovens a tomar certos cuidados para não serem alvos do provável “maníaco” se tornou um viral na internet e contribuíram para gerar clima de apreensão e questionamento das autoridades de segurança pública. O CAMINHO DA INVESTIGAÇÃO O roubo de uma placa de moto no estacionamento de um supermecado ajudou a polícia a fazer a ligação entre os crimes. Ao chegarem ao proprietário da moto da qual a placa estava registrada, policiais descobriram que a placa havia sido roubada no estacionamento de um supermercado. Pelo circuito interno de câmeras, conseguiram a imagem do roubo, em que o ladrão estava sem capacete. Rosana Melo e Galtiery Rodrigues A cor da moto usada pelo vigilante preso, se- gundo a polícia, mudava de cor de acordo com a origem das placas que ele roubava. E para isso eleusavaumacapaespe- cial, de cor vermelha, pa- ra revestir o tanque. Se a placa era originária de uma moto preta, ele não utilizava acapa; se erade moto vermelha, ele usa- va o artifício. A intenção era disfarçar e evitar que fosse parado em blitze da PolíciaMilitar. Depois da prisão dele, dois delegados e equipes de agentes estiveram na casa onde ele mora, no Conjunto Vera Cruz 2 e apreenderam um revól- ver calibre 38 com a nu- meração raspada, muni- ção e todas as roupas de- le. Entre os objetos apreendidos, foi encon- trado, inclusive, a tal ca- paparaotanque. Testemunhas de cri- mesdemorterelatamata- ques de motoqueiros em veículos de cores preta e vermelha, com o mesmo modo de agir. Suspei- tou-se que eram assassi- nos distintos, mas pode ter sido apenas um. A ar- maeamuniçãoforamen- caminhadas ao Instituto de Criminalística para exame de confronto mi- crobalístico e as roupas seriam usadas para ou- tras análises, como por exemplo, confrontar comasusadasporsuspei- tos em filmagens de câ- merasdesegurança. BALÍSTICA O resultado de um laudo de balística acrescentou mais um caso aogrupo daqueles que po- diam ter ligação. O delegado Murilo Polati contou à reporta- gemdoPOPULARqueosprojé- teisutilizadosnasmortesdeIsa- dora e da jovem Thamara da Conceição, 17, assassinada no dia 15 de junho, foram os mes- mos. Thamara morreu, assim como Isadora, na companhia do namorado, Raí Souza de Li- ma, em uma praça, no Centro. Ao descrever o assassino para a polícia,Raídissequeelesepare- cia ao do retrato falado do caso da assessora parlamentar Ana Maria Victor Duarte, de 26 anos, morta em março, no Se- torBelaVista. Diantedapossibilidadedere- lação entre os crimes e levando emconsideraçãoaorigemdain- vestigação a partir da placa 6144edovídeodosuspeitofur- tando-a, a polícia levantou to- dos os elementos possíveis do homem que aparecia nas ima- gens. Descobriu-se, posterior- mente, que a mesma placa foi utilizada por ele em um roubo de farmácia. Outros vídeos de assaltos foram levantados. Em todos eles, a placa da moto era adulterada. Curiosamente, o suspeito gostava de placas com final dobrado: 33, 44 e 88, por exemplo. Ao todo, a polícia levantou seis placas que ele vinha utili- zando para cometer os crimes. Na tentativa de homicídio de uma mulher, no último final de semana, em um pit-dog no Jar- dim América, ele usou a de fi- nal 88. Segundo os delegados, foi a mesma placa usada ante- riormente por ele para assaltar uma padaria. Com essas carac- terísticas semelhantes, a polí- cia construiu o perfil do suspei- to e da moto, além de levantar oslocaisondeelemaisagia. EXISTE OU NÃO? Durante as investigações do homicídio de Janaína Nicácio de Souza, de 25 anos, assassinada na noite do dia 8 de maio no Jardim América, a polícia teve acesso a placa da moto usada pelo assassino, anotada por populares. No último dia 14, durante tentativa de homicídio de uma jovem de 24 anos no Jardim América, câmeras de segurança flagraram três motos passando pelo local, sendo uma delas com a placa roubada no supermercado. Uma das testemunhas do assassinato de Isadora Aparecida dos Reis, de 15 anos, ocorrido no dia 1º de junho, na Vila São José, identificou semelhanças entre um homem que aparece em um vídeo apresentado a ele pela investigação do caso e o motoqueiro responsável pelo assassinato da garota. No dia 14 de outubro, uma equipe da Polícia Civil se deparou com Tiago no trânsito, no momento em que ele se dirigia para o trabalho, no Hospital Materno-Infantil A polícia chegou ao nome de Tiago Henrique Gomes da Rocha, mas não conseguiu encontrá-lo. Os policiais o abordaram, foram até sua casa, onde encontraram revólver e roupas que teriam sido usadas nos crimes