Saúde Mental Jun. 2017 | Page 23

A saúde mental no contexto universitário é algo que deve ser promovido, visando o diálogo e o debate entre alunos acerca desse assunto, surge a LASMEC.

A entrevista seguinte foi transcrita de áudio

e realizada com uma representante da LASMEC, durante um evento promovido na semana de luta antimanicomial, uma

ocupação cultural em meio urbano.

O que é a LASMEC e como vocês atuam?

A LASMEC é a Liga Acadêmica de Saúde Mental e Cultura, é uma iniciativa estudantil que surgiu da nossa inquietação de perceber alguns temas não eram abordados em sala de aula mas que eram muito relevantes. Os estudantes que fundaram a LASMEC faziam parte de um projeto de extensão no CAPS Paranoá e foi lá que eles se depararam com a realidade de atendimento de saúde mental e entenderam que a abordagem vista em sala de aula, que é sempre muito focada no atendimento individual, que é muito patologizante, trabalha com rótulos, não cabia no CAPS e outros espaços como a rua. Então Nossas principais atividades são as nossas reuniões semanais que a gente usa para conversas sobre assuntos que parecem relevantes para todos do grupo, Mas a nossa base é a luta antimanicomial, reforma psiquiátrica e redução de danos.

Porque a luta antimanicomial é importante?

Existe uma ilusão que é disseminada hoje em dia que não existem mais manicômios e que a luta não tem mais relevância, o que não é verdade. A luta antimanicomial existe para que as pessoas não tenham seus direitos violados só porque foram diagnosticadas com um transtorno ou sofrimento psíquico e também vai no sentido dos manicômios mentais que ainda são muito presentes. O que é, nesse sistema que a gente vive, que adoece tanto as pessoas? Saúde mental a gente entende como sendo tudo, desde você ter um lugar de noite pra dormir até ter algo pra comer, porque não tem como ter saúde mental sem ter saneamento básico.

Na opinião de vocês, quais são os sofrimentos psíquicos mais comuns na universidade?

Quando você me faz essa pergunta, existe uma tendência de eu responder como um nome, por exemplo, “depressão”. Nós, justamente por questionarmos os nomes, essa pergunta fica um pouco mais complicada de responder. Porque a gente vê que o histórico de vida é único, o contexto social de cada indivíduo é único então a gente acha reducionista dar um nome como depressão para descrever uma série de problemas. Mas, considerando a universidade como um espaço que é muito adoecedor, então acho que existe muito esse negócio de baixa auto-estima e acho que há uma grande falta de motivação, além de problemas com drogas, justamente por termos que estar sempre ligados as drogas – incluindo o café - além de acalmar, permitem as pessoas acompanhar essa rotina absurda.

Quais intervenções vocês realizam e como elas contribuem para saúde mental?

A gente vem se questionando há algum tempo porque tínhamos uma tendência a querer ser megalomaníacos. Fizemos uma ocupação lá no ministério da saúde por 3 meses. A gente achou “não, depois que a gente ficou 3 meses nessa ocupação ralando demais todo dia, o mundo já vai estar diferente” – mas não é bem assim que acontece. Como a cultura é formada pelas pessoas, mudar as pessoas é mudar a cultura. Se a gente mudar o jeito que as pessoas pensam sobre si mesmas e sobre as pessoas que estão ao redor, a gente vai mudar as relações, e mudando as relações a gente faz a luta antimanicomial.

Aula de Yoga no evento Ocupa cultural no Eixão, promovido pela LASMEC.