Saúde Mental Jun. 2017 | Page 22

O que é loucura para você(s)?

“(risos) é risos né, se bem que o Antonin Artaud escreve uma carta aos chefes do manicômio, “deixe-nos rir”, mas pra mim a loucura é uma condição humana, ela é a experiência humana diante da vida, da realidade, pra mim ela não é uma patologia , não é uma doença, pra mim ela é uma outra forma de organização diante do mundo, ela é essencialmente a última possibilidade de liberdade humana, acho que quando se instaura um caos a loucura vem e se estabelece, é uma resposta a esse caos interno da sociedade, mas é uma maneira de ser, não é uma doença.Delírio e alucinação são uma maneira de lidar com mundo, com a realidade.” -Thiago Petra, representante da ONG INVERSO.

“A nossa visão tende ao não reducionismo do ser humano, é a visão ampliada, a gente compreende que a loucura vem de varias formas e que a loucura pode ser apropriada Então a loucura cabe na nossa sociedade, a gente só precisa dar espaço para ela.”-Representante da LASMEC.

“A loucura é um fenômeno que faz parte do ser humano. Acho que todos nós temos algum momento em que a gente sai um pouco do que se espera, a gente sai da norma, vê coisa onde não tem, a gente pensa coisa que não existe... enfim, acho que todo mundo tem essa potencialidade...

É um fenômeno muito intenso que gera sofrimento psíquico, ruptura dos laços sociais, então a loucura não é só esse fenômeno interno, mas como que isso chega para o mundo que a gente vive ...a loucura é tudo aquilo que questiona, traz embaraço para o social, provoca medo e certa resistência porque fala de algo que também é nosso e que a gente não pode falar, tem que ter o confronto.”

-Juliana Pacheco, psicóloga no CAPS.

Como você(s) acha(m) que a sociedade enxerga a loucura?

“Acho que ela enxerga com estranheza, com preconceito. Na verdade a loucura tem um estigma muito forte, que é o da periculosidade, da incapacidade e da incurabilidade. Mas a maior prova de que a loucura é uma condição humana é que a gente tenta afastar ela da gente porque não consegue ficar perto de algo tão nosso. Todo mundo tem uma possibilidade de enlouquecer então queremos afastar o que parece estranho mas é próximo, não é atoa todas as internações psiquiátricas são longe do núcleo urbano, geralmente vai para núcleos rurais para ser escondida, isso tem uma função.”-Thiago Petra, representante da ONG INVERSO.

“Dependendo de como a cultura vai sendo construída a visão das pessoas também vai sendo construída. Na Grécia Antiga tinham as pessoas que eram “diferentes” e eram consideradas sábias e eram bem valorizadas. Na época que o cristianismo tomou mais corpo e mais poder, a loucura foi começando a ser vista como um desvio moral que deveria ser tratado. Hoje em dia é uma mistura da visão religiosa e dessa visão pós iluminista de que a loucura é um desvio biológico ou seja. Inclusive a forte medicalização vem dessa ideia, que se você tem um problema biológico damos um remédio e ela está curada. O que a gente mais vê é que os remédios são desenvolvidos primeiro e logo depois vem novas patologias no DSM que vão se encaixar nesse remédio. Existe também a visão de que a loucura é frescura, que a pessoa está fazendo drama e querem atenção – não que isso seja ruim porque realmente queremos chamar atenção para algo que está errado.”-Representante da LASMEC.

“Eu acho que estamos em um momento de profundas mudanças na forma de perceber tudo, mas eu ainda vejo muito a presença da ideia do louco como esse que está fora, que é o incapaz, que a gente não pode confiar, não tem nada a acrescentar e isso pensando muito no mundo do trabalho – que é muito cruel, que as pessoas tem que atender esse tempo do capital que é muito rápido. Então o louco é alguém que não entrou nesse ritmo, é aquele que está muito à margem. Mas por outro lado essa proximidade com a loucura gera uma tolerância um pouco maior. Hoje eu não saberia te dizer “olha, hoje a sociedade vê assim”, porque eu acho que tem vários olhares, é um pouco mais complexo.” -Juliana Pacheco, psicóloga no CAPS.

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As percepções da loucura.