Saúde Mental Jun. 2017 | Page 14

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Primeiramente deve-se compreender o que é a representação social. De acordo com Moscovici (1961/1978), as representações sociais são “ciências coletivas”, ou seja, é o conhecimento popular sobre determinado assunto mas que difere do cientifico pois é mais superficial e muitas vezes interpretado erroneamente. Dessa maneira, é possível perceber que os conceitos estão em constante mudança e por isso é importante entender a loucura ao longo da história.

Em seu livro A História da Loucura, Foucault define duas concepções sobre loucura: a trágica e a crítica, cujos conceitos nascem juntos na Renascença mas no Iluminismo já se encontram distintos. A primeira refere-se ao período da Grécia Antiga, quando os loucos eram ao mesmo tempo temidos e adorados. Essas pessoas, também conhecidas como Oráculos, eram consideradas sábias e detentoras de um conhecimento não acessível aos homens comuns, sendo consultadas até mesmo pelos líderes do governo.

Já a segunda, concepção crítica, inicia no Renascimento quando a loucura passa a ser considerada um erro, uma fraqueza – um defeito do ser humano. Ela ganha força no século XVIII quando o Iluminismo domina as correntes políticas e filosóficas pois apresenta a razão como pilar principal. Assim, a loucura passa a ser vista como uma doença mental e consequentemente, passível de estudos e tratamentos por parte da psiquiatria – ciência que modelava o modo de se comportar da época. Essa nova maneira de pensar tinha como objetivo a reforma da sociedade e do conhecimento através do poder da razão. Assim, surgiram tratamentos para os loucos que objetivavam a devolução da razão para tais indivíduos.

Entre o final do século XIX e início do século XX a loucura foi conceituada como psicose mas ao longo do século XX a psicose passa a ser associada com a esquizofrenia (Lopes, 2001). Essa associação, juntamente com as visões anteriores, contribuíram para a visão atual que de acordo com a psicóloga Juliana Pacheco “a loucura é tudo aquilo que questiona, traz embaraço para o social, provoca medo e certa resistência porque fala de algo que também é nosso e que a gente não pode falar”.

Por tal razão foram criados os CAPS – Centro de Atendimento Psicossocial – que, baseado no modelo italiano de Franco Basaglia, são espaços de convivência para esses indivíduos serem acolhidos e terem a possibilidade de trabalhar as questões terapêuticas – como também as famílias e a sociedade – com intuito de substituir os antigos hospitais psiquiátricos – também conhecidos como manicômios.

Julia Cipriano Vasconcelos

Desmistificando a Loucura

O que é a loucura? Como foi consagrada essa concepção atual amplamente divulgada? Para que se possa responder efetivamente as duas perguntas, é preciso fazer uma abordagem histórica: como a loucura foi sendo representada socialmente ao longo dos séculos?

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