Sarau A Tempo - ANO I - N° 03 | Page 11

REPLÚBICAS DOS BANANAS

Parlamento

Diz-se que é a casa do povo

Sabidamente, é a morada do tubarão

Habitat dos velhacos, maquiavélicos

Local do conluio, conspiração

Amordaça, estraçalha

Os desinformados, desavisados

Os que vivem uma subvida

Os que só assistem de camarote

Engolem o engodo

De uma fala macia

De um olhar altivo

De um gesto cortes

O nascedouro insustentável

De um sub ser

A criação sistemática

De uma nova classe

A ralé, párias, lúmpen

O ofuscar obscuro, enigmático

A busca da cidadania

Parlamento... Parlamento... Parlamento...

No epílogo

A configuração plena

De um par de lamentos

Dúzias de lamentos

Aliás, um muro das lamentações

O mais cruel

Todas as carnificinas

Tudinho dentro da lei

A cada burocrata, tecnocrata,

De plantão

A mesma ladainha

Em algum lugar, perguntou-se

Quando essa massa

Vai despertar, do seu sono

Particular, secular?

Saber de sua força de gigante!

Enfim, é muito pouco

O conformismo, simples e puro

Se os dados estão rolando

Esta é a regra do jogo

É uma virtude

Saber fazer do parlamento

Não um par de lamentos

Um par de reivindicações, conquistas

Não dúzias de lamentos

Dúzias de questionamentos,

Cobranças e acertos de contas

Não um muro das lamentações

Um muro inconteste

De afirmações, dos levantes

Sublevações e vitórias

Por fim, o sucesso dos opressores

Abate firme e forte

Sobre os incautos, os boçais

Faz de ti parlamento

O estigma, o fetiche

Nos registros sejais

A instrumentalização de atrocidades

Para quem acha desprezível

O encanto, a utopia

O romantismo, o sonho

Da justiça

Da verdade

Da liberdade.

© Francisco Szermeta