Samba Acadêmico Edição 07 Ano I Outubro 2016 | Page 16

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tradição é transmitida de geração a geração. Muito do que repetimos e fazemos pode muito bem estar

relacionado a fatos e histórias que ouvimos, lemos ou assistimos. A força da linguagem, da contação de histórias, é perpetuada como termos e frases que nos acompanham desde sempre e que aparentemente tem sentido prático e nem sempre parece lógico por sua longevidade

Ao Batuque se dizia tudo aquilo de manifestações afro brasileiras como jongo, candomblé, capoeira. As autoridades consideravam sinônimo de brigas, desordem e até coisas piores e eram duramente reprimidos pelo poder de polícia só pelo fato de estarem reunidos. Então batuque e cozinha não podiam estar juntos, a Sinhá não deixava. As manifestações culturais afro descendentes então aconteciam em volta da fogueira – também servia para esticar o couro dos tambores, e sendo assim podia-se queimar o pé no batuque em volta da fogueira. “Batuque na cozinha a Sinhá não quer/Por causa do batuque queimei meu pé”. Ainda pode haver referência ao fato de quem batucar na cozinha se “queimar” ou seja, ser passível de uma punição..A música executada nos terreiros das Tias Baianas, como Tia Ciata, era o Partido Alto na qual um refrão era cantado por todos e se repetia diversas vezes, intercalados por versos improvisados pelos de “Alta Patente do Samba” que faziam parte na roda. As Tias Baianas foram as mais altivas defensoras do samba e dos sambistas, enfrentavam a policia que tinha receio por medo e total desconhecimento de sua religião afro descendente.

Cárcere

Polícia perseguia os

pobres

“Desde a sua criação em 1809, a Guarda Real da Polícia perseguia os pobres, principalmente os de pele mais escura, culpados até que provassem o contrário. De 1810 a 1821, aforam presas e encarceradas 4.776 pessoas, das quais 99,6% eram negros. Desse percentual, 79,8% eram escravos e 18,8% eram libertos.” João da Baiana - O Batuque na Cozinha de 125 anos - MARCOS ALVITO é professor e autor de As cores de Acari.

Eu voltei na cozinha, pra tomar um café/O malandro tá com olho na minha mulher/Mas comigo eu apelei pra desarmonia/E fomos direto pra Delegacia.. “Como na Capital Federal há mais quem habite do que onde habitar,... à procura de cômodos, uma interminável procissão de desamparados da sorte e de magros lutadores pela vida,...” Aluísio de Azevedo - Casas de Cômodos.. As casas de cômodos, também conhecidas como cortiço abrigavam em acomodações precárias indivíduos e famílias de baixo ou quase nenhum poder aquisitivo, e impedidas de arrumar uma colocação profissional que pudesse possibilitar

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BATUQUE na Cozinha

Da Senzala para Casa de Comodo

Segundo Marcos Alvito, professor e autor de As Cores de Acari, a letra do samba Batuque na Cozinha traz várias referências e criticas, e mesmo João da Baiana tendo nascido livre da escravidão, sua mãe era beneficiada da Lei do Ventre Livre, e seus avos foram escravos, trazendo à tona a carga social sofrida pelos antepassados além de ser uma critica social.

Guarda Civil 1904

Casa de Comodo

Rua Ouvidor 1890 - RJ

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