Samba Acadêmico Brasil Edição 13 ANO II Abril 2017 | Page 16

martinho

da Vila

A nota do Chico

não agradou

Eram os anos duros e truculentos da Ditadura. O golpe mais duro viria no ano seguinte – 1968, no mês de dezembro, AI-5 – Ato Institucional número 5 durante o governo Costa e Silva, ano que ficou conhecido como “o ano que não acabou” e ficou marcado na história mundial e do Brasil como de grande contestação da politica e dos costumes.

As Escolas de Samba não estavam livres do crivo da censura. Aliás, já durante o governo Vargas os sambistas tinham seus versos censurados e eram obrigados a muda-los caso contrário o DIP não autorizava sua divulgação na Rádio Nacional – estatal Varguista. Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola experimentaram esta censura. No carnaval de 1969 com o Samba Enredo “Heróis da Liberdade” do Império Serrano. Em seu último verso “É a revolução em sua legitima razão”. Para ser librado ou verso mudou para “É a evolução em sua legitima razão”.

Martinho, mais adiante no ano de 1974, teve seu samba excluído das eliminatórias. O samba “Aruanã Açu” sobre a tribo Carajás – exaltava os índios e fazia críticas severas ao progresso desenfreado, não agradou o regime militar, e a Escola Unidos de Vila Isabel foi obrigada a mudar o enredo que passou a exaltar a Transamazônica. Ironicamente em 1983 a Vila Isabel passa a ser presidida pelo Capitão Guimarães, que passou dos porões da tortura do DOI-Codi à contravenção. O samba “Aruanã Açu” foi gravado anos mais tarde com o nome “Festa dos Carajás” por Martinho da Vila e se tornou muito mais conhecido que o samba ufanista cantado na avenida.

Domingo, 08 de fevereiro de 1967. O Jornal Correio da Manhã do Rio de Janeiro estampava em Manchete - CARNAVAL: Noite é das Escolas, sobre os desfiles das escolas de Samba que desfilariam naquela noite. Em outro caderno noticiava que o Carnaval Modifica Roteiros de ônibus. Não existia Sambódromo e os desfiles aconteciam na Candelária no final da Av. Presidente Vargas. Os desfiles ainda eram somente em uma noite. Martinho da Vila estreava como compositor de Samba Enredo no Carnaval carioca com “Carnaval de Ilusões” em parceria com Gemeu Samba da Escola de Samba Unidos de Vila Isabel.

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