e às vezes dizia: “acho que Deus me esqueceu aqui”.
Este medo nos paralisou, nos atordoou, impediu inúmeras coisas. Por vezes, adiei planos de viagem, como por exemplo visitar os parentes em Portugal, com medo de algo acontecer e minha mãe estar sozinha com minha avó. Outras tantas, deixei de fazer as mesmas viagens com meu irmão, pelo mesmo motivo. Minha mãe, por anos não saia de casa, para não deixá-la sozinha. Deixou em segundo plano seus próprios exames e consultas médicas, parou de fazer atividades físicas, para ficar sempre por perto, por medo de que algo acontecesse em sua ausência.
Vale destacar que o “algo acontecer” podia ser qualquer coisa, não se tratava apenas da morte. Era medo dela se machucar, adoecer, ter de ficar internada, precisar de qualquer
coisa, e não estarmos perto. No meu caso, eu tinha medo do desconhecido, e também da minha falta de controle sobre o que pudesse acontecer. Estando perto, eu acreditava estar “no controle” da situação. E apenas quando ela se foi de fato é que percebi que não havia mesmo o que fazer. Perto ou longe, eu não poderia ter evitado sua morte, não poderia ter evitado a tristeza e o luto natural de minha mãe, e eu sofreria sua ausência da mesma forma. Estou aos poucos aprendendo que o medo nos engole, impede de viver
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