RPL - Revista Portuguesa sobre o Luto 3 | Page 22

Luto e Dias Comemorativos

Todos os aspetos ligados ao luto são sempre dolorosos e intensos. Logo, a questão de passar os dias comemorativos sem o ente querido, tem um enorme peso na vida da pessoa que sofreu a perda, por uma simples razão: são um marco que assinala o tempo já vivido sem a pessoa amada. Contudo, a intensidade da dor e o rebuliço das emoções, dependem do grau de importância que era atribuído a estes dias. Não obstante, com maior ou menor importância, esses dias comemorativos, passam a ter um sabor amargo.

O primeiro dia comemorativo, que surge após a morte do ente querido, é antecedido por uma dor profunda, que se torna mais intensa no próprio dia. Uma vez mais, o enlutado é confrontado com a irreversibilidade da perda. A pessoa amada não mais estará presente. E essa dor inicial transforma-se, muitas vezes, em agonia. Entretanto, como todos ao redor dizem que a “a vida continua”, há um grande esforço, por parte dos familiares mais chegados, para “normalizar” o dia, para que tudo volte a ser como era e para que o enlutado “não sofra tanto”. Mas tal não acontece. O enlutado não consegue manter a dor atrás da máscara social e esta extravasa e incomoda quem o rodeia, recordando-o de que este é um caminho solitário. Quem o rodeia não o entende, não fala a mesma língua e não percebe porque é que ele não pode voltar a ser o mesmo.

À medida que se vão sucedendo os dias comemorativos, estes passam a ser familiares à pessoa que sofreu a perda, e com o passar dos anos, a agonia vai suavizando até dar lugar à

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