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O período de gestação é um processo de profunda mudança psicológica e social dos indivíduos, particularmente dos progenitores e dos que assumem laços directos e emocionais com estes. Assim, o nascimento de um filho é frequentemente considerado como um dos acontecimentos mais importantes e marcantes não só na vida dos progenitores, mas de todo o sistema familiar (Moura-Ramos & Canavarro, 2007 in Tavares, 2013:1), então

“(...)enquanto período de transição (que envolve sempre uma significativa quantidade de stress), a maternidade e paternidade, entre muitas outras coisas, reaproxima a mulher e o homem da sua família de origem, movimento que se dá no passado e no presente, e que reafirma ainda mais a importância das relações familiares neste momento do desenvolvimento humano (Figueiredo, 2005). A presença de uma rede de apoio efectiva e a qualidade das relações significativas são a principal garantia de uma adequada adaptação à maternidade.” (Tavares, 2013:5)

A forma romantizada que, comummente, se utiliza para descrever a gravidez é fortemente marcada pela projecção do futuro que se inicia no momento da concepção, ou mesmo antes, “um bebé não nasce após nove meses de gravidez: nasce quando nasce na imaginação dos pais” (Sá e Biscaia, 2004 in Tavares, 2013:2). Porém, o período que medeia até ao nascimento representa uma fase fundamental na construção do projecto da maternidade

“Depois da concepção, e ao longo das quarenta semanas de gravidez, o crescimento do feto é acompanhado de um desenvolvimento progressivo da imagem do bebé na mente da mãe/pai. Esta imagem baseia-se tanto em necessidades e anseios narcisistas, como na percepção do desenvolvimento do feto (Brazelton & Cramer, 2007). Este período serve então de treino e ensaio de novas significações, através de fantasias e reflexões que vão permitir que o projecto de maternidade se continue a construir e consolidar de forma progressiva (Canavarro, 2001). Assim, quando chega a altura do nascimento, os pais deparam-se com três bebés: ao filho imaginário dos seus sonhos e fantasias, e ao feto invisível mas real (que se foi demonstrando ao longo dos meses) junta-se o verdadeiro bebé recém-nascido, que os pais podem ver, ouvir e tocar (Brazelton & Cramer, 2007)” (Tavares, 2013:3).

E, se do ponto de vista biológico, o processo de gravidez corresponde a um período definido no tempo, cerca de 40 semanas, a maternidade é um projecto a longo prazo, para a vida, embora assuma maior visibilidade nos primeiros anos da criança, devido à necessidade por parte desta de um grande número de cuidados de forma a que se desenvolva harmoniosamente (Canavarro, 2001 in Tavares, 2013:2). Assim,

“(...) numa primeira fase, os pais aceitam e adaptam-se à notícia da gravidez. Aqui, a ambivalência é a atitude mais característica: ambivalência em relação à viabilidade da própria gravidez; ambivalência em relação à aceitação do feto; ambivalência em relação às mudanças que o novo estado implica e em

A Perda Perinatal:

Breve Apontamento para uma Leitura Cultural

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