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O dia em que a minha vida mudou
A 19 de Janeiro de 1982 nascia no hospital do Funchal uma bebé de 49cm e 3,750 kg. Parto: provocado por ventosa. Data prevista de nascimento: por volta do dia 23 de Dezembro de 1981.
A mãe (de primeira viagem) já se havia deslocado ao hospital algumas vezes e tranquilizada pois ainda não era tempo. Mas os dias iam passando…e a bebé não dava sinal de querer nascer! Passou-se o Natal e o Fim-de-ano…
Nos dias anteriores ao nascimento, a bebé não mexia. A futura mamã continuava alarmada. O seu coração dizia que havia alguma coisa errada com a sua bebé por nascer.
No dia 19 de Janeiro a bebé Sandra nasce por parto provado por ventosa. Segundo a mãe estava arroxeada e não chorou de imediato. Mas estava viva. Devido à icterícia ficou de imediato alguns dias longe da sua mãe.
A bebé foi para casa com a sua mãe sem sequelas e de boa saúde.
O dia que mudou a minha vida foi um dia com final feliz. Sobrevivi. Esquecido o que poderia dar errado. Celebrada a vida. Quase 35 anos depois aqui estou a dar o meu testemunho do dia mais importante da minha vida e do qual não recordo absolutamente nada. Apenas conheço os relatos da minha mãe dessa grande aventura. Das horas infinitas que ficou deitada à espera do momento da minha chegada.
Seguiu-se o baptizado aos seis meses. O primeiro aniversário, as primeiras palavras e os primeiros passos, até à idade adulta.
Quase que esta história seria mais uma história de perda gestacional, mas felizmente estou aqui para dar o testemunho de uma gestação que foi até ao final com alguns precalços. Por aqueles que não nasceram, eu nasci forçada. Foram-me lá buscar. Por aqueles que não nasceram, eu cresci. Eu estou aqui. Mas poderia não estar. E eu não existiria. Não estaria na vida de pessoas. Por todos os bebés sem nome ou que ficaram com o nome por ser usado, eu me chamo Sandra. Tudo porque um dia a minha vida mudou e eu nasci.
Sandra Andrade, 34 anos
Licenciada em Educação Social
Estudante de Psicologia
Vigilante na área de segurança privada
Lisboa (Portugal)