RPL - Revista Portuguesa sobre o Luto 1 | Page 27

A vida em Verso e Prosa

Quando a minha irmã gêmea estava vivenciando as dores e angústias da perda gestacional, imersa em sofrimento intenso, sem forças, logo me senti profundamente tocada e sensibilizada com o luto da minha irmã e quis demonstrar para ela o quanto a apoiava e respeitava, através da exteriorização dos meus sentimentos. Não imaginava que meses depois eu viria a perder o meu bebê também. E escreveria uma poesia em especial para o meu anjo que já tem companhia.

MATERNIDADE COMPARTILHADA

Ao compartilharmos o desejo pela sua chegada já preparamos a sua doce morada

Ao compartilharmos os planos para te receber nunca pensamos em te perder

Ao compartilharmos o sonho pela maternidade sinto-me mãe de verdade

Ao compartilharmos a sua presença não vislumbramos a possibilidade da sua ausência

Ao compartilharmos o quanto sonhamos com o dia ao te embalar é impossível não te amar

Ao compartilharmos todas as mudanças advindas com a gravidez sinto que finalmente chegou a minha vez

Ao compartilharmos as transformações corporais, hormonais e emocionais percebo o quanto este momento é especial, sobrenatural, fora do normal.

No entanto, como compartilhar a interrupção de uma vida, que está sendo sentida, vivida e querida?!

Como compartilhar todo o amor, transformado em dor?!

Como compartilhar o sonho interrompido, as noites mal dormidas?!

Como compartilhar o sentimento de angústia pelos planos a sucumbir?!

Como compartilhar a nossa descrença na vida, no homem, a falta de desejo pelo que está por vir?!

É melhor o silêncio e a solidão?! Mas foi tudo compartilhado outrora, e agora?

Larissa Rocha Lupi, 33 anos

Psicóloga CRP-RJ: 05/3723

Rio de Janeiro (Brasil)

Fundadora do projeto Do Luto à Luta: Apoio à Perda Gestacional e Neonatal

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