A vida em Verso e Prosa
Quando a minha irmã gêmea estava vivenciando as dores e angústias da perda gestacional, imersa em sofrimento intenso, sem forças, logo me senti profundamente tocada e sensibilizada com o luto da minha irmã e quis demonstrar para ela o quanto a apoiava e respeitava, através da exteriorização dos meus sentimentos. Não imaginava que meses depois eu viria a perder o meu bebê também. E escreveria uma poesia em especial para o meu anjo que já tem companhia.
MATERNIDADE COMPARTILHADA
Ao compartilharmos o desejo pela sua chegada já preparamos a sua doce morada
Ao compartilharmos os planos para te receber nunca pensamos em te perder
Ao compartilharmos o sonho pela maternidade sinto-me mãe de verdade
Ao compartilharmos a sua presença não vislumbramos a possibilidade da sua ausência
Ao compartilharmos o quanto sonhamos com o dia ao te embalar é impossível não te amar
Ao compartilharmos todas as mudanças advindas com a gravidez sinto que finalmente chegou a minha vez
Ao compartilharmos as transformações corporais, hormonais e emocionais percebo o quanto este momento é especial, sobrenatural, fora do normal.
No entanto, como compartilhar a interrupção de uma vida, que está sendo sentida, vivida e querida?!
Como compartilhar todo o amor, transformado em dor?!
Como compartilhar o sonho interrompido, as noites mal dormidas?!
Como compartilhar o sentimento de angústia pelos planos a sucumbir?!
Como compartilhar a nossa descrença na vida, no homem, a falta de desejo pelo que está por vir?!
É melhor o silêncio e a solidão?! Mas foi tudo compartilhado outrora, e agora?
Larissa Rocha Lupi, 33 anos
Psicóloga CRP-RJ: 05/3723
Rio de Janeiro (Brasil)
Fundadora do projeto Do Luto à Luta: Apoio à Perda Gestacional e Neonatal
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