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Início do Fim

A perda gestacional é uma perda muito dura. Mais ainda porque é, vezes demais, incompreendida. As pessoas festejam uma gravidez mas quando as coisas correm mal dizem, muitas vezes frases como “Deixa lá”, “És nova”, “Tentas outra vez” ou pior “Antes assim do que se já o tivesses no teu colo”. Claro que não dizem isto por mal: as pessoas querem sempre dizer alguma coisa, mas nestas circunstâncias o melhor que pode ser oferecido é um ombro, um abraço, um silêncio e entender que perder um bebé imaginado, sonhado e desejado é uma dor muito profunda, que permanece por toda a vida.

Eu tive uma dessas perdas… Após anos de tratamentos de fertilidade, de testes de gravidez negativos. Em que cada tentativa era falhada, finalmente o sorriso nos lábios. Ninguém sabia que eu estava a tentar engravidar. Não queria que ninguém soubesse. Muitas vezes, eu própria dizia “Sou nova”, “Tenho tempo”, “Ainda não chegou o momento”

Demorei 7 anos para engravidar. O meu relógio biológico já disparava há demasiado tempo! Durante este período, todas as minhas amigas já tinham engravidado, já tinham os seus filhos crescidos. E eu continuava sozinha, com um enorme vazio, que nada nem ninguém conseguia preencher. Era desolador! Eu queria ficar feliz por elas mas não conseguia… Perguntava muitas vezes “Porquê? Porquê eu?”… Se estava tudo bem!

Até ao dia em que senti que estava grávida! Foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Ainda não tinha feito o teste mas eu sabia que estava grávida! Eu ia finalmente ser mãe! Como esperava e desejava há anos!

Nunca me passou pela cabeça que poderia perder o meu tão desejado filho, até ao momento em que, um corrimento estranho veio abalar a minha vida: era o início do fim. Era um aborto espontâneo… E o meu mundo desabou! Foram anos de espera, anos de esforço, anos de vontade, anos em que o objetivo era o mesmo, mês após mês. Parecia um pesadelo… Não tinha fim… Ainda hoje, lembro de cada detalhe daquele dia em que perdi o meu filho. Na verdade, eu senti o meu filho, eu vi o meu bebé!... Eu expeli (como dizem os médicos) uma “bolinha dura”, tive-a na minha mão… Era o meu filho que esperava há tanto tempo e era também a certeza da minha gravidez.

Senti-me durante muito tempo como uma árvore seca. Algumas pessoas faziam questão de me lembrar que eu não tinha filhos. Eu calava mas sentia uma dor imensa! O vazio crescia a cada dia… O meu grande apoio foi sem dúvida o meu

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