consagrou a política industrial de substituição de importações
que orientou a economia brasileira por mais de seis décadas. Foi
a ideia força principal, em particular no segundo governo Vargas
e nos governos Kubitschek e Geisel. O nacional-desenvolvimen-
tismo e a política de substituição de importações foi uma verda-
deira estratégia nacional durante todo o pós-guerra. 3
A vitória do nacional-desenvolvimentismo aconteceu, em
grande parte, em função da restrição cambial oriunda da baixa
capacidade de importar da economia primário exportadora.
O café só deixou de ser o principal produto de exportação do
Brasil, em 1984, e assim a balança comercial, dependente da
importação de petróleo e bens industrializados, era estrutural-
mente deficitária da mesma maneira que a balança de serviços.
Na medida em que o investimento direto estrangeiro era virtual-
mente inexistente, a conta de capital era incapaz de equilibrar
os déficits acumulados nas balanças comercial e de serviços.
Assim, a política industrial substitutiva de importações era útil
na prevenção e no enfrentamento de crises cambiais e para o
equilíbrio do balanço de pagamentos. Perseguir metas de gera-
ção de superávits comerciais era um objetivo macroeconômico,
particularmente na iminência de crises de balanço de pagamen-
tos, reforçando o argumento dos beneficiários de proteção e
subsídios, ajudando-os a serem vistos como patriotas defensores
do interesse nacional.
Além disso, no receituário macroeconômico de Gudin, o
combate à inflação era peça central. Sabe-se hoje que a contração
monetária e creditícia por ele defendida e executada, quando no
comando da área econômica, era derivada da teoria quantitativa
da moeda que foi abandonada em todo o mundo e sua aplicação
em economias como a brasileira tornava-se mais veneno do que
remédio. 4 O efeito recessivo e contracionista da política anti-infla-
cionária reforçava o argumento nacional desenvolvimentista e
ajudava a consolidar a opção pela política industrial de substitui-
ção de importações.
Na esteira do golpe de 1964, e reagindo ao quadro de desordem
macroeconômica herdado do governo João Goulart, o primeiro
3 Sergio Besserman Vianna e André Villela: O pós-Guerra (1945-1955), em Eco-
nomia Brasileira Contemporânea, organizado por Fabio Giambiagi, André Villela,
Lavínia Barros de Castro e Jennifer Hermann. Campus Elsevier, 2004.
4 André Lara Resende. Juros e conservadorismo intelectual. Artigo para o Valor
Econômico, em janeiro de 2017.
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Luiz Paulo Vellozo Lucas