Riscos que nos ameaçam PD50 | Page 58

sociais que recusam os fatos, as evidências, a lógica ou apenas uma singela sensatez?
No futuro adiante, decisões populares da maioria, como o Brexit, aprovado em uma democracia consolidada e estável, como o Reino Unido, serão entendidos como uma irresponsabilidade social inacreditável e, em nossos dias, há ameaças fascistas fermentando em quase todas as partes do mundo, da Rússia à China, da Turquia às Filipinas. E o que dizer dos regimes populistas europeus, como a recente eleição italiana? Afinal, o que estaria acontecendo com os comportamentos sociais – os humanos estariam abdicando de refletir sobre seus espaços sociais e usar o livre arbítrio, preferindo a condição de marionetes? Estaríamos nos curvando, alegremente, à condição de passivo rebanho? Para os observadores do mundo, a sensação é terrivelmente inquietante, pois tudo parece estar caminhando na direção errada.
São atitudes de coletividades, como ilustração, que se tornam, em consequência, necessariamente radicalizadas e pouco propensas à reflexão e ao debate franco e fraterno sobre diferentes visões de mundo ou argumentos plurais sobre as escolhas sociais. Revelam grupos e classes sociais que, sobretudo, parecem recusar o exercício do raciocínio e optam por seguir apenas os instintos ou as preferências mais imediatas e superficiais. E assim, nas últimas duas décadas, em especial, temos coletado notícias que surgem com frenética velocidade, a cada dia, assustando os espíritos mais propícios à diversidade de opiniões e à tolerante convivência que deveria ser a marca das sociedades democráticas.
A pergunta mais óbvia, ante esta grande transformação, é imediata: por que, humanos capazes de raciocinar que somos, não temos sido capazes de definir as fronteiras do que é razoável, em disputas sociais, conflitos, diferenças de interesses e antagonismos diversos? Quais seriam as possibilidades objetivas de estabelecer as fronteiras da razoabilidade, na interação humana, no campo político ou, mais amplamente, na vida social? É possível alguma metodologia, ou teoria, que defina o significado concreto do que seja rigorosamente“ razoável”, para delimitar com firmeza irredutível a sociabilidade e a estrutura moral da sociedade?
Estas são perguntas típicas da Filosofia Política e, provavelmente, John Rawls foi o autor que mais tenazmente ofereceu respostas a respeito. Não apenas em seu genial Teoria da Justiça, talvez o mais importante livro de Filosofia do século passado, publicado em 1971, mas, em especial em seu livro seguinte, mas pouco
56 Zander Navarro