Riscos que nos ameaçam PD50 | Page 57

Ao fragmentar-se continuamente, a partir da década de 1980 e os anos seguintes, em escala planetária, as consequências foram visí- veis, dramáticas e chocantes em algumas nações, ainda que menor em outras e, mesmo assim, os impactos sociais foram se tornando mais evidentes. Este brevíssimo comentário se tornaria extenso, caso existisse a intenção de comentar detalhadamente sobre os casos emblemáticos que exemplificam comportamentos sociais bizarros, em situações específicas ou, então, governos também excêntricos, se examinados por algum foco de racionalidade. Para isso, tome-se um ponto de partida temporal relativamente recente, de alto simbolismo político. Digamos – 1989, em vista da ruidosa queda do muro, em Berlim, e seu espetacular efeito no imaginário coletivo da humanidade. Acarretou o gradual desaparecimento, no plano das mentalida- des, de uma teleologia societária, sintetizada na palavra “socia- lismo”, um futuro potencial que seria luminoso, justo e socialmente radiante. Destruída esta visão utópica de futuro, qual seria a saída mental desenvolvida? Somente uma: ancorar-se no presente, pois aquele horizonte distante deixou de existir. Não surpreende, assim, o presentismo que passou a ser, cada vez mais, a orientação domi- nante dos comportamentos sociais, a partir dos anos noventa. Examinem-se os quase trinta anos seguintes, arrolando os eventos mais salientes indicativos da forte confusão política e a inversão surpreendente na plasticidade dos comportamentos sociais. Podem ser sinais que variam entre extremos notáveis, quanto à sua magnitude e relevância, mas todos reveladores de estranhos e inesperados comportamentos sociais que gradual- mente emergiram no período citado. A lista de surpresas será infinita e nem exige um grande esforço de memória para ser composta. O que explicaria, mesmo sob uma exigência mínima de racionalidade, as atitudes de destruição da própria vida, como os “humanos-bomba”, em nome de imaginários mágicos do além? E os comportamentos eleitorais que tipificam as décadas mais recentes, em todos os quadrantes do planeta, elegendo democraticamente delirantes mandatários, doidivanas de todos os tipos e colorações? Ou então novos dirigentes que invocam textos que seriam sagrados e manipulando-os vilmente, desenvol- vem formas de opressão sobre os seus povos? E o ressurgimento de lutas religiosas – em pleno século 21? Por que os ideais iluministas, que pareciam estar sendo concretizados há poucas décadas, foram sendo despedaçados, um a um, materializando comportamentos É possível ser “razoável” em política – ou, mais amplamente, na vida social? 55