Ao fragmentar-se continuamente, a partir da década de 1980 e os
anos seguintes, em escala planetária, as consequências foram visí-
veis, dramáticas e chocantes em algumas nações, ainda que menor
em outras e, mesmo assim, os impactos sociais foram se tornando
mais evidentes.
Este brevíssimo comentário se tornaria extenso, caso existisse a
intenção de comentar detalhadamente sobre os casos emblemáticos
que exemplificam comportamentos sociais bizarros, em situações
específicas ou, então, governos também excêntricos, se examinados
por algum foco de racionalidade. Para isso, tome-se um ponto de
partida temporal relativamente recente, de alto simbolismo político.
Digamos – 1989, em vista da ruidosa queda do muro, em Berlim, e
seu espetacular efeito no imaginário coletivo da humanidade.
Acarretou o gradual desaparecimento, no plano das mentalida-
des, de uma teleologia societária, sintetizada na palavra “socia-
lismo”, um futuro potencial que seria luminoso, justo e socialmente
radiante. Destruída esta visão utópica de futuro, qual seria a saída
mental desenvolvida? Somente uma: ancorar-se no presente, pois
aquele horizonte distante deixou de existir. Não surpreende, assim,
o presentismo que passou a ser, cada vez mais, a orientação domi-
nante dos comportamentos sociais, a partir dos anos noventa.
Examinem-se os quase trinta anos seguintes, arrolando os
eventos mais salientes indicativos da forte confusão política e a
inversão surpreendente na plasticidade dos comportamentos
sociais. Podem ser sinais que variam entre extremos notáveis,
quanto à sua magnitude e relevância, mas todos reveladores de
estranhos e inesperados comportamentos sociais que gradual-
mente emergiram no período citado.
A lista de surpresas será infinita e nem exige um grande esforço
de memória para ser composta. O que explicaria, mesmo sob uma
exigência mínima de racionalidade, as atitudes de destruição da
própria vida, como os “humanos-bomba”, em nome de imaginários
mágicos do além? E os comportamentos eleitorais que tipificam as
décadas mais recentes, em todos os quadrantes do planeta,
elegendo democraticamente delirantes mandatários, doidivanas de
todos os tipos e colorações? Ou então novos dirigentes que invocam
textos que seriam sagrados e manipulando-os vilmente, desenvol-
vem formas de opressão sobre os seus povos? E o ressurgimento de
lutas religiosas – em pleno século 21? Por que os ideais iluministas,
que pareciam estar sendo concretizados há poucas décadas, foram
sendo despedaçados, um a um, materializando comportamentos
É possível ser “razoável” em política – ou, mais amplamente, na vida social?
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