talvez até mais explícita. A atrasada legislação eleitoral brasileira
não permite as chamadas listas cívicas de candidatos autônomos
e, por isso, os movimentos precisam se credenciar nos partidos
políticos para seus candidatos postularem um lugar na disputa.
O PPS abriu-lhes esta porta.
Entretanto, para o PPS talvez seja mais do que isso ou talvez
possa ser mais do que isso. Intencionalmente ou não, o fato é que
esta abertura (e mesmo as circunstâncias em que ela se realiza)
pode colocar um desafio novo ao Partido. Em casos assim, de uma
abertura à sociedade, a novas culturas políticas, como não pode-
ria deixar de ser, abre-se a discussão em torno do destino desta
organização política.
Pode-se dizer que entre o fim do PCB e o advento do PPS, até
os dias que correm, o PPS configurou-se essencialmente como um
partido pós-comunista, com aderentes que vieram de diversas
culturas políticas ou até mesmo de nenhuma, mas com um núcleo
dirigente político caudatário da história e da cultura política do
pecebismo. O PPS é, antes de tudo, um partido pós-pecebista, que
busca valorizar o que entende como positivo na trajetória do
“velho Partidão”, especialmente sua postura democrática, adotada
depois de 1958 e realçada no combate à ditadura militar que se
impôs no Brasil entre 1964 e 1985. O pecebismo é aqui tratado
como uma cultura específica do movimento comunista interna-
cional que deu origem e guiou os passos da trajetória do comu-
nismo no Brasil.
Como em outros países, a versão nacional do movimento
comunista estabeleceu uma característica especial a cada um dos
partidos. No caso brasileiro, o pecebismo foi uma espécie de ato
de “civilização do comunismo” por meio de sua adesão à política
democrática. Daí a ambiguidade sempre marcante do PCB, espe-
cialmente depois da Declaração de Março de 1958, que acabou
por dar ao partido (talvez da mesma forma que ocorreu com o
Partido Comunista Italiano, guardadas as devidas proporções)
uma espécie de “dupla alma”: mantida a adesão ao comunismo
internacional, buscou organizar sua linha política que procurava
ler cuidadosamente a situação nacional, integrando-se às lutas
democráticas do seu povo.
Como pós-comunista, o PPS trouxe para, dentro de si, as
características marcantes do pecebismo e, talvez por isso, tardou
muito a encontrar uma nova identidade. Demorou muito em
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Alberto Aggio