Riscos que nos ameaçam PD50 | Page 39

A terceira lição mostra o erro de basear a energia do transporte automobilístico no combustível fóssil. Redescobrimos o erro de haver parado a substituição do combustível fóssil, poluente e esgotável, por um combustível renovável, pouco poluente e empregador, como o etanol. Fizemos este esforço, como um exemplo para o mundo inteiro, mas quando o preço do petróleo caiu, ao invés de continuar a investir no álcool e no carro elétrico, escolhemos subsidiar o combustível fóssil, mesmo sacrificando a Petrobras. Erramos na matriz energética, depois de termos errado na matriz do transporte.
O sofrimento provocado pela paralisação dos serviços e da escassez de combustível e mercadorias leva à reflexão, sem preconceito, sobre as consequências do monopólio. A nação precisa da Petrobras sólida, mas a greve levanta a possibilidade de que o país pode ser melhor atendido com a disputa de preços entre empresas, inclusive a estatal. Está na hora de discutirmos como publicizar as estatais, colocando-as a serviço do povo; para isso, fazendo-as eficientes, sem serem aprisionadas por governos, por partidos, por empreiteiras ou por seus servidores, mas sem esquecer seu papel no desenvolvimento nacional e no bem-estar da população.
A quinta lição foi mostrar o equívoco e a incompetência do reajuste diário. O então presidente Pedro Parente recuperou uma empresa que atravessava grave crise financeira, ética e moral, mas errou na falta de planejamento, que teria evitado a oscilação diária de preço. Ainda que o trigo seja importado e o dólar valorizado, nenhum dono de padaria reajusta o pão todo o dia. O padeiro mantém o preço durante algum tempo, perdendo receita; depois, ganhando mais, porém conservando sua clientela com um preço não reajustado diariamente. Foi preciso vivermos os problemas criados por essa greve para mostrar o equívoco deste reajuste diário. Todo aumento do preço do petróleo e do dólar deve ser contabilizado, mas não precisa repassar tal impacto instantaneamente para o consumidor.
Outra lição aprendida, a sexta, é que se constitui um erro manter um sistema produtivo concentrado, exigindo o transporte das mercadorias por milhares de quilômetros entre a produção e o consumo. Compram-se ovos em supermercados de Brasília vindos de São Paulo, depois de produzidos no Mato Grosso. Descobrimos a importância da filosofia identificada como“ Slow Food”, desenvolvida na Itália por Carlo Petrini e defendida no Brasil pelo
Aprendendo com as tragédias
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