Impossível deixar de notar, no interior do campo real que se
mal chama de centro, raciocínios e procedimentos análogos aos
encontrados nos extremos quanto à instrumentalização eleitoral
da intervenção e do atentado. É intuitivo concluir que se este
espaço intermediário ora está pulverizado em vários projetos
pessoais e/ou partidários de pré-candidaturas presidenciais, a
polissemia resultante das narrativas é previsível. Se em relação
ao atentado a tônica dominante é o protesto quase protocolar, no
que tange à atitude face à intervenção federal as variações são
bem maiores e seguem a lógica do maior ou menor interesse de
cada grupo político em se diferenciar do Governo.
A intensidade das preferências quanto ao sucesso ou fracasso
da intervenção no Rio de Janeiro é menor entre partidos desse
campo esgarçado do que nos extremos do espectro político, exce-
ção obviamente feita aos parlamentares daquele Estado. Por isso
e não por serem intrinsecamente mais sensíveis ao interesse
público, ouvidos “mais ao centro” podem estar mais abertos a
argumentos em favor de um apoio institucional unitário à inter-
venção para que ela conclua com êxito o seu trabalho. A questão
é encontrar razões capazes de incentivar as respectivas bocas a
saírem do relativo silêncio para, em condições de desigualdade,
disputar espaço nas mídias com as narrativas dos extremos. Isto
não ocorrerá por compromisso ideológico com um ideal de justiça
ou posicionamento desinteressado em favor de uma política nacio-
nal de segurança pública. Esta política teria que ser levada ao topo
da agenda de uma candidatura presidencial viável, em patamar de
prioridade superior ao ocupado pela ideia de moralização da polí-
tica. E no âmago da política social proposta teria que estar a mate-
rialização do tema da justiça, apelo que reúne democratas liberais
e de esquerda e cujo poder de persuasão é grande no momento
vivido no Brasil. Este apelo poderá tornar-se ainda mais significa-
tivo e ter tradução eleitoral se a intervenção no Rio apresentar
resultados concretos e se estes resultados incidirem sobre o trata-
mento do problema da segurança pública no conjunto do país.
Dentro dos limites da lei, dos objetivos que, de modo realista,
a intervenção federal na área da segurança pública do Rio e o
Ministério Extraordinário da Segurança Pública se autoimpuse-
ram e dentro também dos limites do incrementalismo que adota-
ram como método, desenha-se, no Estado brasileiro, uma política
pública. Seu valor intrínseco, enquanto política impregnada de
materialidade, supera o de controversas interpretações sobre
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Paulo Fábio Dantas Neto