influência europeia, devido à nossa ligação orgânica com a
cultura ocidental e apesar das afirmações utópicas de origina-
lidade radical. […] A alegada independência literária foi em
parte uma substituição de influências, com a França tomando
o lugar da metrópole portuguesa. (CANDIDO, 2015, p. 45).
Em 1922, com o advento da Semana de Arte Moderna, o
Modernismo, enquanto movimento que propunha utilizar-se da
linguagem para produzir uma ruptura com os padrões culturais
anteriores, foi fundamental para a consolidação de uma identi-
dade nacional brasileira, na medida em que transcendeu as
barreiras da literatura e alcançou diversos setores da sociedade.
A Revolução de 1930, nesse aspecto, é decorrente do projeto
modernista de criar um ideário nacional no corpo social brasi-
leiro; portanto foi essencial para a transição da sociedade agrole-
trada para a sociedade industrial avançada, na terminologia
utilizada por Ernest Gellner. (GELLNER, 1996, p. 108).
É importante destacar que, na década de 1930, no Brasil,
apesar do contraditório regime político, permitiu-se o que Jünger
Habermas considera como:
A transformação democrática da Adelsnation, a nação da
nobreza, na Volksnation, a nação do povo, exigiu uma profunda
mudança mental por parte da população em geral. Esse
processo inspirou-se no trabalho de acadêmicos e intelectuais,
cuja propaganda nacionalista desencadeou uma mobilização
política nas classes médias urbanas instruídas […]. (HABER-
MAS, 1996, p. 299).
A percepção desse processo, na Europa, por Habermas, não é
diferente do processo vivenciado, no Brasil, durante a fase de
consolidação da identidade nacional, em que a efervescência inte-
lectual propiciou um contexto político de engajamento das classes
médias urbanas. É interessante notar que, no caso brasileiro,
esse processo é significativamente intenso, tanto que polarizou a
sociedade. A classe média dividiu-se em duas vertentes diame-
tralmente opostas de pensamento, mas que estavam inseridas
nesse momento de agitação intelectual: o comunismo e o integra-
lismo (LAUERHASS, 1986, p. 110). O Estado Novo surge como
alternativa encontrada por Getúlio Vargas para equalizar a pola-
rização, já que a dimensão dos movimentos supracitados poderia
liquidar todo o projeto de formação de uma identidade nacional.
A consolidação da identidade nacional brasileira: um projeto político
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