Riscos que nos ameaçam PD50 | Page 112

nas unidades encarregadas do diagnóstico e tratamento das doenças. Como já disse, há muitos anos, o professor Miguel Couto, “O Brasil é um imenso hospital”. Por isso mesmo, haverá sempre falta de médicos para atender a população. Os governantes devem estar cientes de que a sociedade não precisa de mais médicos, mas de políticas preventivas que reduzam o número de doentes. O quarto equivale à atribuição do devido valor ao nobre exer- cício da maternidade, sem o qual o organismo do país perderá a energia construtiva e renovadora de que depende. Para tanto, uma das providências inadiáveis é a universalização da licença -maternidade de um ano. Só assim será construído o vínculo afetivo mãe/filho com a serenidade e a ternura que são requisi- tos da principal fase de educação do novo ser. O alcance preven- tivo decorrente da adoção dessa medida tem grande amplitude, como se pode constatar na experiência de países escandinavos nos quais duração da licença-maternidade é de 14 meses. Propi- cia o estímulo da prática natural da amamentação que, além de reduzir a prevalência de doenças infecciosas na fase de vida correspondente, garante os componentes nutricionais de quali- dade que são essenciais ao crescimento e desenvolvimento nos primeiros anos de vida. Ademais, enseja o contato pele-a-pele por meio da relação mãe-filho, que enrique o estabelecimento das sinapses entre os neurônios e garante o despertar da chamada sensação de pertencimento que é indispensável à cons- trução da personalidade do novo ser humano. Outros resultados de imensurável valor são inúmeros, tais como a redução das taxas de hipertensão arterial dos adultos que foram amamenta- dos na infância, bem como a diminuição do risco de câncer de mama das mães que amamentam seus filhos. E o quinto é estender a educação básica de qualidade a toda a população infantil a fim de que, como afirma o senador Cristovam Buarque, os filhos dos trabalhadores possam ser educados nas mesmas escolas dos filhos dos patrões. Trata-se da única maneira capaz de erradicar as iniquidades que têm início no período de formação do cérebro, quando o exercício do mais amplo potencial de aprendizagem precisa ser assegurado a todos e a cada um. A propósito, cabe destacar o clássico estudo feito pelo economista americano James Heckman, prêmio Nobel de economia. Sua pesquisa promoveu o acompanhamento comparativo, durante três décadas, de dois grupos de crianças nascidas no mesmo cenário de pobreza, isto é, aquelas que tiveram acesso à assistên- 110 Dioclécio Campos Júnior