Riscos que nos ameaçam PD50 | Page 100

A produção de pescado no Brasil e as oportunidades perdidas Sérgio Pinho A inda que pouco entendida no Brasil como atividade econô- mica, a produção pesqueira sempre foi a principal fornece- dora de proteína para a humanidade. Num país campeão de produção de carne de bois, suínos e aves, é compreensível que o consumo de pescado seja mais tratado como iguaria ou luxo que alimento diário, salvo nas áreas onde a pesca é fácil e farta e escassas as outras carnes. Não obstante, o setor pesqueiro, nas últimas décadas do século XIX e início do século XX, formado essencialmente por pescadores artesanais que operavam em pequenas embarcações, teve importância estra- tégica para a segurança nacional e alimentou as populações praieiras e ribeirinhas. Fato notório pela proximidade e apoio que os pescadores sempre receberam da Marinha do Brasil. Com a diminuição dessa importância “paramilitar”, a atividade pesqueira não experimentou, no Brasil, o mesmo processo de modernização alcançado em outros países que dependiam dela de forma mais contundente. Observe-se que falamos principalmente do século XX, sendo importante ressaltar que a produção pesqueira remonta aos primórdios do desenvolvimento da sociedade humana. O que queremos aqui é identificar o momento em que o Brasil perdeu o caminho do crescimento da economia pesqueira. Tido pela FAO como grande potencial fornecedor de pescado para o século XXI, o Brasil mostrou, nas últimas décadas, que potencial produtivo tem pouca serventia diante das vulnerabili- dades administrativas e econômicas impostas pelas políticas públicas e frente aos concorrentes internacionais. Com águas quentes que favorecem a multiplicidades de espé- cies de alto valor; com uma zona econômica exclusiva de 4,5 milhões de km²; quase 8 mil quilômetros de costa, conjunto que já foi chamado de Amazônia Azul pela sua grandiosidade e passa- gem obrigatória dos grandes migradores do Oceano Atlântico; com 50 mil km de rios navegáveis, podemos estimar em mais 200 mil km a malha de rios piscosos; com 3,6 milhões de hectares 98