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Isso trouxe de volta toda a histó- ria da minha mãe e a necessidade de fortalecer a questão econômi- ca para vencer a violência. Daí, além da alfabetização, das aulas de costura, de cozinha e de ou- tros cursos, a União Popular de Mulheres passou a ter um banco. Assim, depois de fazer um curso, as pessoas podiam emprestar o capital de giro no banco. em agentes socioambientais e construímos um galpão onde funcionavam uma sala de aula e um espaço de coleta seletiva. Está lá no Arrastão até hoje. A ideia era sensibilizar as crianças para depois sensibilizar os pais. “Troque um lixinho por um li- vrinho”, a gente dizia. Eu con- tava com um corpo pedagógico e recebi US$ 40 mil da Artemi- sia. Com isso, uma parte dos jo- vens ficou focada na operação de transformar o resíduo sólido em produtos — bolsas, por exemplo. A outra parte ficou mais focada no trabalho de educação. Depois disso, vários deles foram estudar engenharia ambiental. Mais tarde, aos 20 anos, você cria o Banco União Sampaio. • Em 2008, eu passo a frequen- tar a União Popular de Mulheres, uma espécie de clube de mães fundado no Capão Redondo, um ponto de cultura muito forte na periferia. Em 2009, nós fecha- mos uma parceria com a incuba- dora tecnológica de cooperativas populares da Universidade de São Paulo. Foi quando surgiu a ideia de um banco comunitário. Eu já tinha lido O banqueiro dos pobres, do Muhammad Yunus [economista e banqueiro benga- li, recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2006], e pensei que era aqui- lo mesmo que eu queria fazer. “MINHA MÃE REVERTEU O JOGO CONTRA ELA E, NESSE PROCESSO DE VENCER A VIOLÊNCIA, A QUESTÃO DA GERAÇÃO DE RENDA FOI MUITO IMPORTANTE. ELA SEMPRE EMPREENDEU PARA CUIDAR DOS QUATRO FILHOS” FOTOS: LEO BRITTO/Divulgação NA PISTA Imagens do Fes- tival Percurso: 1. apresentação de grupo de artistas locais; 2. cartaz inspirado na mãe de Vinícius, dona Cleunice; 3. o empreendedor e sua esposa, Fernanda Mourão da Silva, ao lado de Mano Brown e Seu Jorge Qual o capital inicial? • Comecei em 2012 com R$ 20 mil captados no Catarse [plata- forma de crowdfunding]. A gen- te tinha duas carteiras — uma produtiva e outra para consumo. A produtiva opera em reais, com juros de até 2%; a de consumo funciona com Sampaio, uma mo- eda criada por nós, sem juros, já que é para a pessoa que está fodida porque o dinheiro acabou antes do final do mês e precisa comprar comida. Já giramos mais de R$ 1 milhão. Como foi esse começo? • O banco causou. E isso acon- teceu tanto na favela quanto com os boys. O pessoal do outro lado da ponte queria vir aqui, e disso surgiu o Vivência Comu- nitária, que é um negócio de tu- rismo para trazer a galera para a quebrada. Quem nunca pisou numa favela vem com a gente numa van, almoça por aqui, vai conhecer o banco, depois vai no sarau e volta pra casa dando risada, chapadão. Tudo em se- gurança. Já veio gente de várias empresas, inclusive os trainees da IBM. Como é que podem falar de rede sem nunca ter visto uma gambiarra? É essa a relação que a gente faz. Quero mostrar pro mundo que temos uma potencia- lidade aqui, temos inovadores e todo um ecossistema onde a gen- te consegue revolucionar muitas coisas. Qual a inadimplência? É bem baixa, né, mano. Porque a gente não funciona como um banco tradicional, das 10 às 16 horas. OUTUBRO, 2017 PEQUENAS EMPRESAS & GRANDES NEGÓCIOS 39