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ENTREVISTA THIAGO VINÍCIUS
Como era o seu projeto ?
• Eu queria desenvolver um projeto de educação ambiental e coleta seletiva . Antes de investir na ideia , a Artemisia fez todo um processo de formação . Fui para o Sítio Arco-Íris , , participei de um processo muito profundo para conhecer meu poder pessoal , entender a importância da formação de uma rede e reforçar o meu empenho para mudar aquela realidade . Sinto que , no fundo , a minha mãe sabia que aquele negócio ia me fazer bem e me levar a fazer o que estou fazendo .
Qual foi o impacto dessa experiência aos 15 anos ?
• Primeiro a gente se ligou que poderia gerar renda e causar impacto positivo na comunidade ao mesmo tempo . Eu lembro de alguns Eu lembro de alguns amigos , que hoje são uns “ frentes ” do tráfico , do crime e do partido [ PCC , Primeiro Comando da Capital ], dando risada de mim porque eu andava carregando papel pra cima e pra baixo . O crime organizado está muito próximo da juventude , né , mano . Uma das coisas que me inspiram a fazer algo é atrair a atenção do jovem . A todo momento o crime está disputando a atenção deles .
Pode falar mais sobre isso ?
• O crime dá algumas coisas que a família e a escola não têm condições de dar . Quando alguém pega uma bolsa de drogas pra vender , tem de prestar contas e , para isso , tem de saber matemática . Daí a galera do crime ajuda a aprender matemática , entendeu ? O crime está ali , do nosso lado . Por isso , o meu processo com a Artemisia foi muito importante . Depois , eles me pagaram um curso de administração de empresas na PUC . Estudei dois anos lá . Me conectei com outra classe social . Enquanto o mano curtia na Riviera de São Lourenço , eu
estava aqui no Embu das Artes .
HOLOFOTES Mano Brown ( à frente ) e banda tocam no Festival Percurso , projeto criado por Thiago Vinícius que este ano levou 10 mil pessoas aos shows na periferia .
Você fez dois anos e aí ...
• Eu tranquei porque , tipo , não consegui acompanhar . Aí a gente esbarra numa outra questão , que é a educação básica . Os meus professores na PUC perguntavam se eu não tinha visto algumas matérias no ensino médio . Eu não tinha visto ! Essa é a nossa realidade . Nós trabalhamos com economia solidária , mas esbarramos no ensino de matemática e português .
De toda forma , esse contato deve ter trazido outras referências . Você falou de amigos que não resistiram e ...
• Amigos não , mano . Meu irmão mais novo . André Oliveira de Paula . Tinha 21 anos . Ele foi fazer um assalto a banco e a polícia deu 11 tiros nele . Não costumo falar desses bagulhos nas entrevistas , costumo passar por cima , mas vou abrir o coração porque acho que isso tem de ser levado para mais pessoas .
Como foi o baque na família ?
• Vai fazer quatro anos que ele morreu . Antes de acontecer , minha mãe notou que ele estava fazendo coisa errada e foi morar na Ilha Comprida . Não queria desfrutar daquele bagulho que vinha
do crime . Depois , se acontecesse alguma coisa , ela também passaria a fazer parte daquilo . Eu também acabei indo morar com o meu pai quando vi que ele estava nessa . Porque a gente sabe , né ? A gente cola no pancadão , a gente vai no fluxo ... Tipo , a gente não faz trabalho institucional . A Agência Solano Trindade está aberta aos sábados , quando as ONGs fecham na quebrada . Depois de bar e igreja , o que mais tem na periferia é ONG . Pode procurar : tem ONG pra tudo . Você já assistiu àquele filme Quanto vale ou é por quilo ?
Não .
• É um documentário do Sérgio Bianchi em que ele fala da pobreza como mercadoria do terceiro setor . Entendeu ? Pode ver o tanto de ONG que tem aí . Só que a ONG faz o trabalho da porta pra dentro . Da porta pra fora , ela não quer saber , não é problema dela .
Agora , voltando ao seu projeto feito com a Artemisia .
• Eu criei o Reativar e Empreender , que é um projeto de educação ambiental e coleta seletiva . Formamos 15 jovens
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