ENTREVISTA
THIAGO VINÍCIUS
Thiago Vinícius
Nascido em São Paulo (SP) em 1989, fez parte da primeira turma de empreendedores sociais da Artemisia, quando tinha 15 anos. Daí em diante,
criou uma série de negócios nas periferias de SP. Entre os mais importantes, estão o Banco Comunitário União Sampaio, que fornece microcrédi-
to para famílias de baixa renda, a moeda Sampaio, que circula na zona sul paulistana, e o festival Percurso, que este ano reuniu mais de 10 mil
pessoas. É casado com a maquiadora de cinema e tevê Fernanda Mourão da Silva, com quem se prepara para o nascimento de Maria Flor.
“A PERIFERIA É A BASE DA
ECONOMIA SOLIDÁRIA”
T Robson Viturino
F Celso Doni /Editora Globo
Falar em geração de renda como forma de combater a desigualdade social, a falta de
oportunidades e a violência não é novidade no lugar de onde veio Thiago Vinícius.
Como ocorre com milhões de jovens das periferias, o empreendedorismo surgiu para
ele como uma resposta a experiências dolorosas — entre elas, a violência doméstica
e a perda precoce de um irmão. À frente de diversos negócios sociais e culturais,
Vinícius, 28, é dono de uma das vozes mais inovadoras da periferia paulistana. Sua
trajetória e bom humor têm desafiado — e, em parte dos casos, vencido — as barreiras
do preconceito. A seguir, ele defende uma “quebrada conectada” e critica o “precon-
ceito institucional” que impossibilita o seu acesso aos fundos de negócios sociais.
Qual foi o seu primeiro contato
com alguém que criasse ou trans-
formasse alguma coisa?
• Ah, mano, a referência mais anti-
ga é de quando eu nasci, no dia 31
de janeiro de 1989, quando eu co-
mecei a chorar nos braços da minha
mãe. Ela é uma grande inspiradora
do meu trabalho. Sofreu violência
doméstica, como muitas mulheres
de várias classes sociais. Ela rever-
teu todo um jogo e, nesse processo
de vencer a violência, a questão da
geração de renda foi muito forte. Ela
sempre empreendeu para cuidar dos
quatro filhos. Já foi doméstica, ma-
nicure, empreendedora da alimenta-
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PEQUENAS EMPRESAS & GRANDES NEGÓCIOS
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ção... Toda vez que a gente vê uma
favela de pé, ali está a base da econo-
mia solidária.
Como assim?
• A economia solidária de que se fala
na Vila Madalena [bairro nobre de
SP] — de empreendedorismo social
e compartilhamento — surge na fa-
vela. Muitas vezes eu vi a minha mãe
doando um balde de água para famí-
lias mais necessitadas que a nossa.
Por outro lado, ela mobilizou vários
homens para “bater a laje” de casa. A
periferia vive de economia solidária,
e essas memórias me dão um alicerce
para caminhar.
OUTUBRO, 2017
Quando começa a sua trajetória
como empreendedor?
• Em 2004, depois de participar da
ONG Projeto Arrastão, fui da pri-
meira turma da Artemisia, organização
que identifica e apoia empreendedores
sociais. Tinha 15 anos. Eu e minha fa-
mília moramos de frente para o córrego
Pirajussara e sempre sofremos com en-
chentes. Vendo isso, e com a formação
do Projeto Arrastão, me liguei que eu
poderia pensar numa ação de empreen-
dedorismo, geração de renda e educação
ambiental — tudo ao mesmo tempo. Na
época, nem sabia o que era empreende-
dorismo social.
Co
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cio