Você veio para Brasília com 11 meses de idade e morou aqui a maior parte da vida. Hoje vive no Rio e virou cidadão do mundo. Do que você mais sente saudade de Brasília?
Da minha família e dos meus amigos. Do Beirute... [risos] Na verdade, é um pacote. É ifícil falar assim tudo. Mas o principal é a família. O que mais me faz falta é essa coisa amistosa e educada que as pessoas têm aqui. Os grupos, as amizades, osencontros. Aqui você faz amigo de verdade.
Mas muita gente diz exatamente o contrário, que em Brasília as pessoas não se relacionam.
É só uma questão de Brasília ter sido planejada pra andar de carro e não a pé. Isso não quer dizer que as pessoas não façam amizade. Muito pelo contrário. As amizades criadas em Brasília têm uma profundidade diferente de outras cidades. Brasília tem uma afetividade, uma relação com a amizade profunda de verdade.
E da seca, você tem saudade?
Eu não digo que tenho saudade, mas eu gosto da seca. Eu me sinto e mcasa. Mas o que dá mais saudade é você poder olhar pra cima e ver a natureza. Dizem que a nossa praia é o céu, que você nem precisa olhar pracima pra ver o céu. É difícil encontrar uma cidade
com essa disposição
Sua música tem alguma coisa de Brasília?
Tem demais. Na verdade, eu só sou o que sou porque vivi em Brasília. Há 30 anos, Brasília não tinha tradição de nada. A tradição de Brasília eram as tradições que chegavam com as pessoas que vinham fora. Hoje em diavocê já tem uma síntese, você reconhec coisas brasilienses, vê o Pedro Martins [brasiliense de 22 anos, vencedor da Socar Guitar Competition de
2015, no Festival
"Canto de Ossanha"
Montreux] tocando guitarra e pensa: "Pô, isso é uma música de Brasília". Eu fui exposto a influências diversas, de choro e de tudo, sabe? Da música nordestina e da música goiana. Isso me deixou com a mente aberta. Eu sou natural do choro e do samba, vamos dizer assim. Devo muito isso a Brasília e a ter vivido aqui.
Onde você tocava quando começou a sua carreira? Tinha muito espaço pra música?
Brasília cresceu muito. Com certeza, hoje tem mais lugar para tocar. O choro, nesse tempo que eu passei fora...
Eu fico pensando na quantidade de grupo que pintou aqui em Brasília, por conta da Escola de Choro. Eu não tive professor de bandolim, por exemplo. Eu tive que estudar violino porque não tinha professor de bandolim na época, e o violino era o instrumento que tinha a afinação mais próxima. Na minha época, tinha o Clube de Choro, o Gate's, o Teatro dos Bancários, as salas do Teatro Nacional. E tinha alguns bares, tinha o Bom Demais - eu era pequeno nessa época. Tinha um movimento crescente.
Tem muito bar com música ao vivo sendo multado. O próprio Beirute, que não toca música nem ao vivo nem mecânica, foi multado por causa de conversa alta.
Eu tô chocado. Mas é verdade que, quando a cidade é administrativa, ela te essa carga toda de ser o centro do poder, daí ela não é tao boêmia. Quer dizer, ela poderia ser, mas foi contruída para ser administrativa. Existe um certo cuidado maior com a ordem. Eu desejo que encontrem esse equlíbrio, ou que, de repente, Brasília tenha um lugar próprio para a boemia, como a Lapa.
Nessa época você chegou a flertar com o rock, né? Como foi isso?
Brasília, devo isso a Brasília.
Na época tinha Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe