Revista TO-BE REVISTATOBE | Page 45

TÔ Reparamos que as modelagens da Pitô são sem gênero. E qual foi uma das suas motivações para criar isso e como você vê a importância da moda agênero atualmente? É, isso sempre esteve presente na minha vida, da maneira em que eu queria me expressar, quando eu saia de casa para ir a faculdade, para ir para o trabalho, para sair, para ver meus amigos. Eu sempre ficava pensando “bom, eu estou indo para a rua, e quem eu quero ser? ” Então, eu sempre fazia minha própria composição. Eu nunca deixei de me vestir do jeito que eu queria, mas sempre com um pé atrás porque, né?! (risos) A gente vem da baixada, a gente vem de um lugar hostilizado, então a gente tem essa cultura do medo! Então, isso é uma questão...começou como uma questão pessoal e isso já estava começando a virar uma questão maior do que eu esperava, A gente caminha pra discussões mais profundas, hoje em dia, como feminismo e machismo, e isso está completamente ligado a vestimenta, né?! Uma pessoa que se entende do gênero masculino, ela pode usar vestido, e a pessoa que se entende como gênero feminino, ela não precisa vestir uma peça de roupa que esconda o corpo dela para dizer que o cara que está ali ele não precisa dar uma cantada sem ela querer, entendeu?!. Então, o corpo fala, o corpo é um objeto de expressão sexual de cada um, e isso não tem a ver com o sexo, com o sexo no sentido da prática do sexo. Tem a ver com como a pessoa lida com o corpo dela. E o Brasil é um país que tem uma cultura sexual muito forte, então, a gente tem que parar de achar que a roupa está pedindo para você ser estuprada, não existe isso! É uma coisa de maluquice, de E o Brasil é um país que tem uma cultura sexual muito forte, então, a gente tem que parar de achar que a roupa está pedindo para você ser estuprada, não existe isso! É uma coisa de maluquice, de psicopatia, sei lá. É um estudo muito mais profundo que eu acho que a moda não deveria ter esse motivo para isso, mas eu acho que o sem gênero, para mim, é justamente uma maneira de dizer que a moda é roupa, e cada um se enxerga da maneira que deve ali, e isso não tem nada a ver com opção sexual, ou seja, lá o que for. São identidades de gênero, ali, infinitas, é um leque de possibilidades. Entre o masculino e o feminino existe um leque de possibilidades, todo mundo tem um masculino e um feminino dentro de si, então, cada um, coloca nesse caldeirão um pouquinho de cada, todo dia. Tem um dia que eu estou mais masculino, te um dia que eu estou mais feminino, e isso tem a ver comigo, tem a ver com ela, tem a ver com você e isso não tem nada a ver com a vida dos outros, entendeu?! É roupa. É moda. É expressão. É arte. Quem quer consumir Pitô, consome onde? Eu acho que quem quer consumir Pitô, consome… É meio engraçada essa pergunta… Eu acho que assim, consumir Pitô… Acho que é por isso que eu estou aqui na Fábrica Bhering na real, que é transgredir essa questão do consumo, entendeu?! Estou indo consumir uma coisa que é bem diferente da minha rotina, consumir um espaço que tem potencial de criação, de arte, de entretenimento alternativo, e a Pitô está inserida nesse contexto, entendeu?! Porque eu acredito que a Bhering tem essa essência no Rio de Janeiro. Não existem tantos espaços assim que têm essa proposta. Então, quem consome Pitô quer consumir algo que não está dentro dos padrões, e isso vai não só na questão do corpo, mas também com o contexto, no contexto de consumo em si, não necessariamente financeiro ou material, né?! O consumo como é ele. Estamos aqui, estamos consumindo esse espaço, querendo ou não. Então, é isso, nesse sentido. 45.