TÔ
Reparamos que as modelagens da Pitô são
sem gênero. E qual foi uma das suas
motivações para criar isso e como você vê
a
importância
da
moda
agênero
atualmente?
É, isso sempre esteve presente na minha vida,
da maneira em que eu queria me expressar,
quando eu saia de casa para ir a faculdade,
para ir para o trabalho, para sair, para ver
meus amigos. Eu sempre ficava pensando
“bom, eu estou indo para a rua, e quem eu
quero ser? ” Então, eu sempre fazia minha
própria composição. Eu nunca deixei de me
vestir do jeito que eu queria, mas sempre com
um pé atrás porque, né?! (risos) A gente vem
da baixada, a gente vem de um lugar
hostilizado, então a gente tem essa cultura do
medo! Então, isso é uma questão...começou
como uma questão pessoal e isso já estava
começando a virar uma questão maior do que
eu esperava,
A gente caminha pra discussões mais
profundas, hoje em dia, como feminismo e
machismo, e isso está completamente ligado a
vestimenta, né?! Uma pessoa que se entende
do gênero masculino, ela pode usar vestido, e
a pessoa que se entende como gênero
feminino, ela não precisa vestir uma peça de
roupa que esconda o corpo dela para dizer
que o cara que está ali ele não precisa dar
uma cantada sem ela querer, entendeu?!.
Então, o corpo fala, o corpo é um objeto de
expressão sexual de cada um, e isso não tem a
ver com o sexo, com o sexo no sentido da
prática do sexo. Tem a ver com como a pessoa
lida com o corpo dela.
E o Brasil é um
país que tem uma cultura sexual muito forte,
então, a gente tem que parar de achar que a
roupa está pedindo para você ser estuprada,
não existe isso! É uma coisa de maluquice, de
E o Brasil é um país que tem uma cultura
sexual muito forte, então, a gente tem que
parar de achar que a roupa está pedindo para
você ser estuprada, não existe isso! É uma
coisa de maluquice, de psicopatia, sei lá. É um
estudo muito mais profundo que eu acho que
a moda não deveria ter esse motivo para isso,
mas eu acho que o sem gênero, para mim, é
justamente uma maneira de dizer que a moda
é roupa, e cada um se enxerga da maneira
que deve ali, e isso não tem nada a ver com
opção sexual, ou seja, lá o que for. São
identidades de gênero, ali, infinitas, é um
leque de possibilidades. Entre o masculino e
o feminino existe um leque de possibilidades,
todo mundo tem um masculino e um feminino
dentro de si, então, cada um, coloca nesse
caldeirão um pouquinho de cada, todo dia.
Tem um dia que eu estou mais masculino, te
um dia que eu estou mais feminino, e isso tem
a ver comigo, tem a ver com ela, tem a ver
com você e isso não tem nada a ver com a
vida dos outros, entendeu?! É roupa. É moda.
É expressão. É arte.
Quem quer consumir Pitô, consome onde?
Eu acho que quem quer consumir Pitô,
consome… É meio engraçada essa pergunta…
Eu acho que assim, consumir Pitô… Acho que
é por isso que eu estou aqui na Fábrica
Bhering na real, que é transgredir essa
questão do consumo, entendeu?! Estou indo
consumir uma coisa que é bem diferente da
minha rotina, consumir um espaço que tem
potencial
de
criação, de
arte, de
entretenimento alternativo, e a Pitô está
inserida nesse contexto, entendeu?! Porque eu
acredito que a Bhering tem essa essência no
Rio de Janeiro. Não existem tantos espaços
assim que têm essa proposta. Então, quem
consome Pitô quer consumir algo que não está
dentro dos padrões, e isso vai não só na
questão do corpo, mas também com o
contexto, no contexto de consumo em si, não
necessariamente financeiro ou material, né?!
O consumo como é ele. Estamos aqui, estamos
consumindo esse espaço, querendo ou não.
Então, é isso, nesse sentido.
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