Revista Tecnicouro (maio/junho 2021) Ed. 324 - completa | Page 62

FALTA DE PESSOAL QUALIFICADO É O MAIOR OBSTÁCULO para inclusão digital das MPE

Para 55 % dos donos de pequenos negócios , que ainda não entraram no digital , a maior dificuldade para conseguir inserir as micro e pequenas empresas nesse mundo é a falta de funcionários com habilidades e conhecimentos . Apesar deste obstáculo , entretanto , a maioria dos empreendedores ( 76 %) que ainda não digitalizou suas empresas pretende investir , nos próximos seis meses , para começar a efetuar vendas por meio da internet e aplicativos .

Os dados foram revelados por uma pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas ( Sebrae ) em parceria com a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento ( Unctad ) e a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe ( Cepal ). O levantamento ouviu 1.205 empresários ( entre microempresas e empresas de pequeno porte ) na segunda quinzena do último mês de dezembro . Quase 91 % dos entrevistados afirmaram já ter acesso aos benefícios do mundo digital e 85 % destes destacaram que o uso da internet e aplicativos melhorou a situação da sua empresa . Esses resultados estimulam os donos de pequenos negócios a continuar investindo nessa estratégia .
De acordo com o levantamento , 81 % dos empresários que já estão inseridos no mundo digital pretendem fazer novos investimentos para ampliar o nível de digitalização do seu negócio . “ A digitalização do pequeno negócio é um caminho sem volta e bastante acelerado pelo cenário de pandemia . Nem que seja para atrair e efetivar vendas pelo whatsapp , os empresários entenderam que é preciso criar formas digitais de manter e ampliar o mercado ”, analisa o presidente do Sebrae , Carlos Melles .
A análise da inclusão digital pelo porte do negócio mostra que as empresas de pequeno porte ( EPP ), na ordem de 92,2 %, têm a maior proporção de empresas que já contam com o acesso aos benefícios do mundo digital . Já quanto ao segmento de atividade , o setor de serviço lidera com 91,9 % das empresas já inseridas . O setor com menor índice de digitalização é a construção , com 81,8 %.
Outra análise feita pela pesquisa procurou identificar a opinião dos donos de pequenos negócios a respeito da concorrência . De acordo com 26 % dos entrevistados os benefícios de um aumento da concorrência seriam maiores se este crescimento se desse entre os seus fornecedores . O desejo por uma maior concorrência entre os fornecedores foi registrado pelas EPP ( 30 %) e , em especial , pelas empresas dos setores da construção ( 36 %) e da indústria ( 32 %).
Do ponto de vista do acesso ao mercado digital pelos pequenos negócios , o consultor da Unctad Fernando Furlan , que participou da elaboração do estudo , alerta para o fato de que essa dependência de acesso a plataformas de mercados digitais gera preocupações concorrenciais no mudo inteiro . “ Essa tem se tornando a maior discussão no mundo antitruste de como garantir a inovação das big techs e ao mesmo tempo garantir que elas não sejam abusivas ao ponto de excluir os concorrentes do mercado ”, ressaltou . Segundo ele , uma das recomendações do estudo é que os pequenos negócios tenham acesso ao comércio digital de forma igualitária se contrapondo a estratégias de fechamento de mercados de grandes empresas , por exemplo . Para isso , ele aponta que as autoridades , como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica ( Cade ), fiquem atentas à formação de estruturas anti-competitivas em mercados digitais .
Cooperação internacional
Os dados da pesquisa foram apresentados durante o Segundo Diálogo Regional da Unctad- Cepal sobre MPMEs e Políticas de Concorrência , no dia 25 de março . O evento online foi realizado em cooperação com o Sebrae . Os participantes apresentaram o cenário da política de concorrência em seus países da América Latina e Caribe diante dos impactos da crise gerada pela pandemia da Covid-19 sobre os pequenos negócios , principalmente no acesso aos mercados digitais .
Na ocasião , o diretor de Administração e Finanças do Sebrae , Eduardo Diogo , destacou que , no Brasil , os pequenos negócios possuem grande representatividade no contexto empresarial e , apesar da crise , lideram a geração de empregos no País . “ O Sebrae desde o início da pandemia tem tentado mitigar os efeitos nas MPE , seja na articulação com o governo brasileiro ou dando orientação às empresas , incluindoas com base no conhecimento e no comportamento , bem como incentivando-as na transformação digital ”, declarou .
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