Revista Tecnicouro - Edição 313: comepleta Ed. 315 - completa (Nov/Dez - 2019) | Page 68

40% DOS USUÁRIOS DE CHEQUE ESPECIAL recorrem ao limite extra todos os meses O cheque especial é uma das modalidades de crédito mais caras do mercado, mas nem por isso o consumidor brasileiro tem evi- tado usar esse limite disponível na conta, que muitas vezes é fácil de ser obtido. Uma pesquisa feita em todas as capitais pela Confederação Nacional de Diri- gentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) revela que, em cada dez brasileiros, dois (20%) recorreram ao cheque especial em algum momento nos 12 meses anteriores ao le- vantamento, percentual próxima aos 17% observados na mesma pesquisa do ano passado. O levantamento ainda mostra que a maior parte (40%) dos usuários do cheque especial tem o hábito de utilizar o saldo extra todos os meses. Esse compor- tamento é ainda mais comum levando em conta as pessoas da classe C, D e E (48%). Outros 30% de usuários recorreram ao cheque especial a cada dois ou três meses e 27% pelo menos três vezes no ano. O cheque especial é uma linha de cré- dito pré-aprovada, oferecida pelos bancos e, geralmente, utilizada de forma automá- tica pelo cliente quando não há saldo sufi- ciente para cobrir os débitos em sua conta bancária. Em média, os juros cobrados são de 320% ao ano, superiores inclusive ao cartão de crédito rotativo, segundo dados oficiais do Banco Central. Para o educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli, por causa dos juros elevados, o cheque es- pecial só deve ser utilizado em ocasiões emergenciais e durante períodos curtos. “É um erro incorporar o limite do cheque especial como parte da renda. Essa ilusão pode levar o consumidor a gastar mais do que o orçamento permite e ver sua dívida se transformar em uma bola de neve mui- to difícil de ser paga”, alerta José. 68 • novembro | dezembro A maior parte dos usuários de cheque especial não solicitaram crédito ao banco De acordo com a pesquisa, apenas 24% das pessoas que usaram o cheque es- pecial no último ano solicitaram o crédito de forma espontânea. A maior parte (68%) disse ter recebido o limite de forma auto- mática ou a partir de uma oferta, sem a solicitação direta ao banco ou instituição financeira. Outra constatação é que so- mente três (33%) em cada dez usuários do cheque especial buscaram outras alterna- tivas de crédito para conseguir o dinheiro que precisava antes de recorrer ao limite fornecido pelo banco. A pesquisa revela que entre as motiva- ções para recorrer a esse saldo extra, há um misto de falta de controle das finan- ças e eventos inesperados. Os imprevistos com doenças ou compra de medicamen- tos (25%) e o descontrole no pagamento das contas (25%) foram as principais ra- zões do uso do limite do cheque especial. Há ainda pessoas que apelaram a esse di- nheiro porque estavam com pagamentos de contas a vencer (23%) ou porque foram surpreendidas com a necessidade de ma- nutenção do automóvel ou moto (18%). Outro dado que inspira preocupação é que 38% dos entrevistados não anali- saram as tarifas e juros envolvidos, prin- cipalmente, porque precisavam do valor, independentemente dos custos (25%), não perceberam que entraram no cheque es- pecial (7%) ou por falta de interesse (6%). Parte significativa (43%) desconhece o valor dos juros e taxas que os bancos co- bram no cheque especial e mais de um terço (34%) ficou com o ‘nome sujo’ por não honrar com o pagamento. Para José Vignoli, o mau uso do che- que especial pode iludir o consumidor, que acaba pagando caro pela facilidade, praticidade e disponibilidade do recurso. “O consumidor tem de ter clareza de que o dinheiro incorporado ao seu saldo ban- cário não é seu. Se usar, terá de devolver, e pagando juros altíssimos, afinal, se trata de um tipo de empréstimo. Muitas vezes, as pessoas acabam sendo impulsivas ou ingênuas em aceitarem uma oferta sem analisar suas condições de pagamento”, alerta o educador do SPC Brasil. 21% dos que recorrem a empréstimos ou financeiras usam dinheiro para despesas básicas Outra modalidade também investiga- da pela pesquisa foram os empréstimos feitos em bancos ou demais instituições financeiras. A constatação é que a maior parte dessas pessoas pega dinheiro em- prestado para cobrir desarranjos orça- mentários. Em 21% dos casos, o dinheiro serviu para honrar compromissos com despesas básicas, como água, luz, telefo- ne, condomínio e estudos, por exemplo. O mesmo percentual de 21% foi para quita- ção de outras dívidas, como empréstimos, cartão de crédito e prestações de com- pras. Em seguida aparecem a reforma da residência (16%), viagens (16%) e paga- mento de exames, remédios ou consultas médicas (12%). De modo geral, 18% dos consumido- res brasileiros contraíram algum emprés- timo pessoal em banco ou financeira nos 12 meses anteriores à pesquisa e 14% fi- zeram uso do crédito consignado, modali- dade em que as parcelas são descontadas diretamente do salário ou da aposentado-