Revista Tecnicouro - Ed. 317 Ed. 317 - completa | Page 63

Setor está otimista Durante coletiva de imprensa re- alizada pela Abicalçados no dia 14 de janeiro, na Couromoda, a entidade anunciou projeção de incremento na ordem de até 2,5% ao longo de 2020. Participaram do encontro com os jor- nalistas e infl uenciadores o presidente do Conselho Deliberativo e o presi- dente-executivo da entidade calçadis- ta, Caetano Bianco Neto e Haroldo Ferreira, respectivamente. Para Neto, existe um “otimismo moderado” para 2020. “Em 2019, tí- nhamos expectativas muito positivas, mas o atraso de reformas estruturais importantes, caso da Previdência, acabou frustrando um pouco. O fato é que, para não ter que rever a estima- tiva de crescimento, ainda mais para baixo, estamos sendo um pouco mais conservadores nas projeções”, disse, e brincou: melhor estourar a meta do que dizer que não a alcançamos. No início de 2019, a meta de crescimento do setor chegava a 3,4%, número que foi revisto para entre 1,1% e 1,8% no último trimestre do ano. “Não foi um ano ruim, mas poderia ter sido me- lhor. O certo é que parou de piorar”, afi rmou, ressaltando que a confi ança, tanto do mercado quanto do consu- midor, segue em elevação com o novo momento econômico brasileiro. Para Ferreira, comportamento das exportações foi determinante para que 2019 se mantivesse em cresci- mento. “O mercado externo puxou as exportações, especialmente em fun- ção do aumento dos embarques para os Estados Unidos, resultado direto da guerra comercial instalada entre o país norte-americano e a China”, ava- liou, ressaltando que no período, em função das sobretaxas às importações da China, os compradores norte-ame- ricanos buscaram calçados em países alternativos ao gigante asiático, fa- vorecendo o Brasil, maior produto de calçados do Ocidente. Em 2019, os em- barques cresceram 0,9% em volume e registraram queda de 0,9% em receita no comparativo com 2018. “Porém, em função do dólar valorizado ao longo do ano, tivemos um incremento de 7% e reais, um resultado positivo im- portante”, acrescentou. Entre janeiro e dezembro do ano passado, foram em- barcados ao exterior 114 milhões de pares por US$ 967 milhões. Expectativas - Para 2020, o setor espera crescer entre 2% e 2,5%. Porém, diferentemente do ano passa- do, esse número deve ser puxado pelo desempenho no mercado interno, que absorve mais de 85% da produção de calçados (de mais de 950 milhões de pares por ano). Já no mercado externo, a percepção é de que Estados e China estão “se acertando” e que o setor de calçados deve retornar aos patamares anteriores de embarques para o país norte-americano, historicamente o principal destino do calçado brasileiro além-fronteiras. Outro fator que deve seguir preju- dicando o desempenho no mercado internacional é a crise da Argentina e o retorno da onda protecionista que chega calcada no decreto que alterou o prazo das licenças “É mais um com- plicador para as exportações de calça- dos, mas não chega a ser surpresa, pois quando assumiu o novo governo, de viés mais protecionista, sabíamos que poderiam voltar essas difi culdades”, disse Ferreira. Atualmente, a Argen- tina é o segundo destino do calçado brasileiro no exterior e, portanto, tem um impacto signifi cativo na balança comercial do setor. A melhor projeção, para os calça- distas, está no mercado doméstico, que parece começar a reagir, depois de anos de demanda reprimida. “Acre- ditamos que o incremento das vendas no mercado doméstico deva impul- sionar o resultado de 2020”, frisou o executivo, que também saudou me- didas como a redução do ICMS para calçados nos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, alguns dos maiores produtores do segmento no Brasil. “O fato também terá impacto importante na competitividade do calçado desses dois estados”, comemorou Ferreira. Argentina altera regime de licenças para importação D esde o dia 10 de janeiro, o governo argentino apli- ca uma alteração no regime de licenças de importação que tem deixado os calçadistas receosos quanto à volta das barreiras para exportações brasileiras, experi- mentadas até 2016. O presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira, conta que a medida é válida para todos os calçados importados, que terão o prazo de validade de suas licenças reduzido de 180 para 90 dias corridos após a aprovação do Sistema Integral de Monitoramento de Importações (SIMI). “O prazo reduzido pode trazer problemas, pois dependendo da velocidade dos trâmites existe a possibilidade de perdermos negociações importantes”, explica o executivo, ressaltando que a Abi- calçados está atenta à medida, em consulta permanente com expor- tadores de calçados. “Não vamos antecipar o problema, mas em caso de entraves vamos agir politica- mente junto aos governos para a resolução do impasse”, comenta Ferreira. Além do prazo de validade das licenças, o governo argentino diminuiu a tolerância de divergên- cia entre o declarado no SIMI de 7% para 5%, o que também pode causar problemas nas negociações, já que ajustes são realizados entre o pedido e a efetivação do negócio. “São medidas protecionistas que não chegam a ser uma surpresa”, lamenta o dirigente. Mesmo em crise, a Argentina segue sendo o segundo principal mercado para o calçado verde- -amarelo no exterior. Em 2019, os argentinos importaram 10 milhões de pares por US$ 105,2 milhões, quedas de 15% em volume e de 24,7% em receita em relação a 2018. março | abril • 63