Setor está otimista
Durante coletiva de imprensa re-
alizada pela Abicalçados no dia 14
de janeiro, na Couromoda, a entidade
anunciou projeção de incremento na
ordem de até 2,5% ao longo de 2020.
Participaram do encontro com os jor-
nalistas e infl uenciadores o presidente
do Conselho Deliberativo e o presi-
dente-executivo da entidade calçadis-
ta, Caetano Bianco Neto e Haroldo
Ferreira, respectivamente.
Para Neto, existe um “otimismo
moderado” para 2020. “Em 2019, tí-
nhamos expectativas muito positivas,
mas o atraso de reformas estruturais
importantes, caso da Previdência,
acabou frustrando um pouco. O fato é
que, para não ter que rever a estima-
tiva de crescimento, ainda mais para
baixo, estamos sendo um pouco mais
conservadores nas projeções”, disse,
e brincou: melhor estourar a meta do
que dizer que não a alcançamos. No
início de 2019, a meta de crescimento
do setor chegava a 3,4%, número que
foi revisto para entre 1,1% e 1,8% no
último trimestre do ano. “Não foi um
ano ruim, mas poderia ter sido me-
lhor. O certo é que parou de piorar”,
afi rmou, ressaltando que a confi ança,
tanto do mercado quanto do consu-
midor, segue em elevação com o novo
momento econômico brasileiro.
Para Ferreira, comportamento das
exportações foi determinante para
que 2019 se mantivesse em cresci-
mento. “O mercado externo puxou as
exportações, especialmente em fun-
ção do aumento dos embarques para
os Estados Unidos, resultado direto
da guerra comercial instalada entre o
país norte-americano e a China”, ava-
liou, ressaltando que no período, em
função das sobretaxas às importações
da China, os compradores norte-ame-
ricanos buscaram calçados em países
alternativos ao gigante asiático, fa-
vorecendo o Brasil, maior produto de
calçados do Ocidente. Em 2019, os em-
barques cresceram 0,9% em volume e
registraram queda de 0,9% em receita
no comparativo com 2018. “Porém, em
função do dólar valorizado ao longo
do ano, tivemos um incremento de
7% e reais, um resultado positivo im-
portante”, acrescentou. Entre janeiro e
dezembro do ano passado, foram em-
barcados ao exterior 114 milhões de
pares por US$ 967 milhões.
Expectativas - Para 2020, o
setor espera crescer entre 2% e 2,5%.
Porém, diferentemente do ano passa-
do, esse número deve ser puxado pelo
desempenho no mercado interno, que
absorve mais de 85% da produção de
calçados (de mais de 950 milhões de
pares por ano). Já no mercado externo,
a percepção é de que Estados e China
estão “se acertando” e que o setor de
calçados deve retornar aos patamares
anteriores de embarques para o país
norte-americano, historicamente o
principal destino do calçado brasileiro
além-fronteiras.
Outro fator que deve seguir preju-
dicando o desempenho no mercado
internacional é a crise da Argentina e
o retorno da onda protecionista que
chega calcada no decreto que alterou
o prazo das licenças “É mais um com-
plicador para as exportações de calça-
dos, mas não chega a ser surpresa, pois
quando assumiu o novo governo, de
viés mais protecionista, sabíamos que
poderiam voltar essas difi culdades”,
disse Ferreira. Atualmente, a Argen-
tina é o segundo destino do calçado
brasileiro no exterior e, portanto, tem
um impacto signifi cativo na balança
comercial do setor.
A melhor projeção, para os calça-
distas, está no mercado doméstico,
que parece começar a reagir, depois
de anos de demanda reprimida. “Acre-
ditamos que o incremento das vendas
no mercado doméstico deva impul-
sionar o resultado de 2020”, frisou o
executivo, que também saudou me-
didas como a redução do ICMS para
calçados nos estados de São Paulo e
Rio Grande do Sul, alguns dos maiores
produtores do segmento no Brasil. “O
fato também terá impacto importante
na competitividade do calçado desses
dois estados”, comemorou Ferreira.
Argentina altera
regime de licenças
para importação
D
esde o dia 10 de janeiro, o
governo argentino apli-
ca uma alteração no regime de
licenças de importação que tem
deixado os calçadistas receosos
quanto à volta das barreiras para
exportações brasileiras, experi-
mentadas até 2016.
O presidente-executivo da
Associação Brasileira das Indústrias
de Calçados (Abicalçados), Haroldo
Ferreira, conta que a medida é
válida para todos os calçados
importados, que terão o prazo de
validade de suas licenças reduzido
de 180 para 90 dias corridos após
a aprovação do Sistema Integral
de Monitoramento de Importações
(SIMI). “O prazo reduzido pode
trazer problemas, pois dependendo
da velocidade dos trâmites existe
a possibilidade de perdermos
negociações importantes”, explica
o executivo, ressaltando que a Abi-
calçados está atenta à medida, em
consulta permanente com expor-
tadores de calçados. “Não vamos
antecipar o problema, mas em caso
de entraves vamos agir politica-
mente junto aos governos para a
resolução do impasse”, comenta
Ferreira.
Além do prazo de validade
das licenças, o governo argentino
diminuiu a tolerância de divergên-
cia entre o declarado no SIMI de
7% para 5%, o que também pode
causar problemas nas negociações,
já que ajustes são realizados entre
o pedido e a efetivação do negócio.
“São medidas protecionistas que
não chegam a ser uma surpresa”,
lamenta o dirigente.
Mesmo em crise, a Argentina
segue sendo o segundo principal
mercado para o calçado verde-
-amarelo no exterior. Em 2019, os
argentinos importaram 10 milhões
de pares por US$ 105,2 milhões,
quedas de 15% em volume e de
24,7% em receita em relação a
2018.
março | abril •
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