T - O que é realmente a Neu-
rociência, do que ela se ocupa
e quais são as áreas do saber
que melhor se conectam nestes
estudos?
T - Mas por que este saber é
tão importante no mundo dos
negócios?
A - Neurociência é o estudo do siste-
ma nervoso, que tem por objetivo com-
preender como funciona nosso cérebro, a
medula espinhal e os nervos periféricos,
pois estes três elementos são responsá-
veis por coordenar todas as atividades do
nosso corpo. Com o avanço da tecnologia,
passamos a conhecer muito sobre o cére-
bro e descobrimos mais coisas na última
década, do que até então. Levando esses
conhecimentos para o mundo dos negó-
cios, hoje, sabemos, por exemplo, que o
fato de não termos o reconhecimento do
líder ativa a mesma área cerebral da dor.
Quando o cérebro passa a ser o objeto de
estudo, passamos a compreender que o
“neuro” passa a ser a base de todo o resto.
Por exemplo: Neuro+liderança, Neu-
ro+aprendizagem, Neuro+psicologia etc.,
e compreender como o funcionamento do
cérebro pode contribuir com todas essas
áreas.
Me Aline Dotta,
palestrante especialista em Neurociências
14
• setembro | outubro
A - A grande contribuição das Neuro-
ciências aplicadas é o autoconhecimen-
to. E o conhecimento do cérebro pode
ser utilizado dentro das organizações
para melhorar o ambiente de trabalho,
desenvolver liderança, aprimorar a
performance de times, do indivíduo e até
mesmo aperfeiçoar a cultura da empresa.
Os negócios são feitos por pessoas, nas
relações entre líder e liderado, colegas,
clientes, fornecedores. Portanto, se com-
preendermos a “máquina” que comanda
as pessoas, então estaremos compreen-
dendo esse “todo”.
T - Como, de forma prática, as
empresas podem se valer desses
conhecimentos para turbinarem
suas equipes de profi ssionais?
A - Estudos de Neurociências mostram
que a maioria das nossas decisões são
tomadas pelo nosso sistema emocional.
Assim, saímos do aspecto puramente
racional e entramos em um universo
fantástico que é o das nossas emoções.
Quando levamos isto para dentro de uma
empresa, dentro de uma equipe, podemos
pensar no desenvolvimento de compe-
tências emocionais e no desenvolvimento
de inteligência emocional, afi nal é ela
responsável pela maior parte de nossa
entrega. Para levar isto para a prática, eu
costumo convidar as pessoas a pensarem
em algo que fazem com excelência, algo
a que realmente se entreguem 100%. Isso
pode ser algo simples, como fazer uma
receita de bolo, ou algo mais elaborado
como conduzir uma reunião, montar apre-
sentações. A minha pergunta a seguir é: se
dormimos mal ou exageramos na alimen-
tação, se estamos chateados ou brigamos
com alguém, conseguimos entregar com
a mesma excelência? A resposta é não. As
Neurociências aplicadas olham também
para isso e os benefícios são enormes,
entre eles: equipes mais engajadas, pesso-
as mais conscientes de si e dos outros,
desenvolvimento de maior autorresponsa-
bilidade, maior pertencimento em relação
às pessoas e à organização, entrega de
qualidade naquilo que a pessoa tem de
melhor.
T - Quais são as necessidades
mais urgentes das empresas
quando a procuram e o que é
difícil de se trabalhar, quando
elas decidem investir em uma
ação voltada ao público interno?
A - Atualmente, melhoria nos rela-
cionamentos entre lideres e liderados,
bem como melhoria nos relacionamentos
entre colegas. Pela minha experiência, o
mais desafi ador é trabalhar com a resis-
tência de um modo geral. Pois, apesar de
se adaptar, o cérebro não gosta de mu-
dança, pois isso gera um gasto de energia,
e nosso cérebro é preguiçoso.
T - Mas como resolver esta
questão?
A - O sucesso neste processo se dará
através de um trabalho sério, desenvol-
vendo um projeto com início, meio e fi m,
fazendo os envolvidos compreenderem o
que será feito, para que se possa de fato
engajá-los.
T - E quando a preocupação
da instituição é com a busca de
resultados que impactem de for-
ma positiva nos negócios ou na
imagem junto ao mercado?
A - Ter congruência é um caminho
seguro. E isso vale para a empresa e para
as pessoas: se praticar o que se diz.