Revista Tecnicouro - Ed. 314: completa Ed. 314 - completa | Page 14

T - O que é realmente a Neu- rociência, do que ela se ocupa e quais são as áreas do saber que melhor se conectam nestes estudos? T - Mas por que este saber é tão importante no mundo dos negócios? A - Neurociência é o estudo do siste- ma nervoso, que tem por objetivo com- preender como funciona nosso cérebro, a medula espinhal e os nervos periféricos, pois estes três elementos são responsá- veis por coordenar todas as atividades do nosso corpo. Com o avanço da tecnologia, passamos a conhecer muito sobre o cére- bro e descobrimos mais coisas na última década, do que até então. Levando esses conhecimentos para o mundo dos negó- cios, hoje, sabemos, por exemplo, que o fato de não termos o reconhecimento do líder ativa a mesma área cerebral da dor. Quando o cérebro passa a ser o objeto de estudo, passamos a compreender que o “neuro” passa a ser a base de todo o resto. Por exemplo: Neuro+liderança, Neu- ro+aprendizagem, Neuro+psicologia etc., e compreender como o funcionamento do cérebro pode contribuir com todas essas áreas. Me Aline Dotta, palestrante especialista em Neurociências 14 • setembro | outubro A - A grande contribuição das Neuro- ciências aplicadas é o autoconhecimen- to. E o conhecimento do cérebro pode ser utilizado dentro das organizações para melhorar o ambiente de trabalho, desenvolver liderança, aprimorar a performance de times, do indivíduo e até mesmo aperfeiçoar a cultura da empresa. Os negócios são feitos por pessoas, nas relações entre líder e liderado, colegas, clientes, fornecedores. Portanto, se com- preendermos a “máquina” que comanda as pessoas, então estaremos compreen- dendo esse “todo”. T - Como, de forma prática, as empresas podem se valer desses conhecimentos para turbinarem suas equipes de profi ssionais? A - Estudos de Neurociências mostram que a maioria das nossas decisões são tomadas pelo nosso sistema emocional. Assim, saímos do aspecto puramente racional e entramos em um universo fantástico que é o das nossas emoções. Quando levamos isto para dentro de uma empresa, dentro de uma equipe, podemos pensar no desenvolvimento de compe- tências emocionais e no desenvolvimento de inteligência emocional, afi nal é ela responsável pela maior parte de nossa entrega. Para levar isto para a prática, eu costumo convidar as pessoas a pensarem em algo que fazem com excelência, algo a que realmente se entreguem 100%. Isso pode ser algo simples, como fazer uma receita de bolo, ou algo mais elaborado como conduzir uma reunião, montar apre- sentações. A minha pergunta a seguir é: se dormimos mal ou exageramos na alimen- tação, se estamos chateados ou brigamos com alguém, conseguimos entregar com a mesma excelência? A resposta é não. As Neurociências aplicadas olham também para isso e os benefícios são enormes, entre eles: equipes mais engajadas, pesso- as mais conscientes de si e dos outros, desenvolvimento de maior autorresponsa- bilidade, maior pertencimento em relação às pessoas e à organização, entrega de qualidade naquilo que a pessoa tem de melhor. T - Quais são as necessidades mais urgentes das empresas quando a procuram e o que é difícil de se trabalhar, quando elas decidem investir em uma ação voltada ao público interno? A - Atualmente, melhoria nos rela- cionamentos entre lideres e liderados, bem como melhoria nos relacionamentos entre colegas. Pela minha experiência, o mais desafi ador é trabalhar com a resis- tência de um modo geral. Pois, apesar de se adaptar, o cérebro não gosta de mu- dança, pois isso gera um gasto de energia, e nosso cérebro é preguiçoso. T - Mas como resolver esta questão? A - O sucesso neste processo se dará através de um trabalho sério, desenvol- vendo um projeto com início, meio e fi m, fazendo os envolvidos compreenderem o que será feito, para que se possa de fato engajá-los. T - E quando a preocupação da instituição é com a busca de resultados que impactem de for- ma positiva nos negócios ou na imagem junto ao mercado? A - Ter congruência é um caminho seguro. E isso vale para a empresa e para as pessoas: se praticar o que se diz.