Revista Sintonia de Bambas A Revista Nobre do Samba e da Boa Música | Page 29

O tema vai mostrar as lutas dos negros e as consequências de uma abolição mal resolvida. Mas a Vai Vai já contou capítulos emocionantes da negritude como os enredos “Orum Aiyê – O Eterno Amanhecer”, campeã em 1982 e “Jorge Amado . A História de uma Raça Brasileira”, campeã em 1988.

No Rio de Janeiro, o palco da Sapucaí, visto como sagrado a preservação da memória da raça, também já emocionou muita gente com passagens da história dos negros no Brasil. No Carnaval de 1988, em um dos seus mais belos sambas e o enredo “Cem Anos de Liberdade”, a Mangueira fez a seguinte pergunta: “Realidade ou Ilusão?”. “Será que já raiou a liberdade… Ou se foi tudo ilusão? Será, oh, será… Que a lei Áurea tão sonhada… Há tanto tempo assinada… Não foi o fim da escravidão? Hoje dentro da realidade… Onde está a liberdade… Onde está que ninguém viu?”

Com um desfile emocionante, a Mangueira foi vice-campeã no Carnaval da época, mas com a certeza que mirou no alvo da abolição mal resolvida.

Em 1989, o Salgueiro reviveu seus grandes Carnavais de temática africana e propôs uma reflexão da luta do negro pelo seu reconhecimento na sociedade, defendendo o enredo “Templo Negro em Tempo de Consciência Negra”. Ao som de um dos mais bonitos sambas da década de 80, a escola desfilou com cerca de cinco mil componentes, esbanjando beleza e emoção em sua passagem. Apesar do 5º. Lugar, boa parte da crítica e do público salgueirense acreditavam na disputa do título.

As crenças, o folclore e a religiosidades afro-brasileiros vieram no desfile da Portela de 1983, com o enredo “A Ressurreição das Coroas, Reisado, Reino e Reinado”, que deu aos portelenses o título de vice campeã, em desfile que ficou marcado pela última aparição de Clara Nunes, dias antes de ser internada e de morrer, após complicações cirúrgicas . No Carnaval de 2019, a Portela finalmente homenageará sua imortal estrela, Clara Nunes com enredo: “Na Madureira Moderníssima, Hei Sempre de Ouvir Cantar uma Sabiá”.

Em 1988 a Unidos de Vila Isabel, a escola de samba de poetas como Noel Rosa, Martinho da Vila e Luiz Carlos da Vila marcou a passarela com um dos maiores desfiles em homenagem a Zumbi dos Palmares com o enredo “Kizomba, a Festa da Raça”. Campeã do Carnaval daquele ano, a escola usou e abusou da criatividade nos matérias alternativos, como a palha e o sisal, além da força, da raça e da garra de seus componentes para representar um autêntico Quilombo.

No Carnaval carioca, seja no passado distante ou recente, são muitos os enredos que preservam a história da negritude. E vale ressaltar, todas escolas já desfilaram em algum momento sobre a temática afrodescendentes.

Porém, a grande surpresa mais recente veio no Carnaval de 2018 com o desfile da escola de samba Paraíso do Tuiuti. Com o enredo sobre os 130 Anos da Lei Áurea “Meu Deus! Meu Deus! Está extinta a escravidão?” onde fez uma crítica sem divisor de águas, em unir o passado ao presente e nos convidando a reagir: que sejamos todos livres, que não sejamos escravos de nenhum senhor, que possamos enfrentar os neoescravagistas, os neocapitães do mato, hoje a serviço do capital financeiro, que nos assalta direitos. E que após 130 Anos da Abolição, nós possamos de fato acabar com a exploração e finalmente trazer liberdade e vida digna ao povo negro e trabalhador, os verdadeiros produtores da riqueza.

Em um desfile de tirar o folego e arrepiar todas as raças, a Paraíso do Tuiuti deu um salto da última posição que obteve em 2017 , decorrentes a problemas em sua alegoria, para o segundo lugar em 2018, perdendo o título para a a tradicional Beija- Flor, por menos de um décimo. Para 2019 a Paraíso apresenta o enredo “O Salvador da Pátria”, que conta a história do Bode Ioiô.

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