Revista Sintonia de Bambas A Revista Nobre do Samba e da Boa Música | Page 28

A nEGRITUDE EXALTADA E CANTADA

PELO CARNAVAL

Valdir Sena

Na disputa da memória!

O samba faz o tempo de Consciência Negra ser preservada.

As escolas de samba são os maiores redutos da história dos Negros. A magia e a beleza dos desfiles produzidos e traduzidos pelas genialidades dos carnavalescos e das equipes que montam os enredos para o Carnaval é sem dúvida uma das formas de construir a história e preservar a memória.

E a disputa dessa memória, exibida em teatro ambulante, mostra a verdadeira aula de história sobre a vida dos negros que ocorrem nos desfiles dos Sambódromos de São Paulo e Rio de Janeiro. Essa aula toma vida no grande palco da Avenida tornando o Carnaval, o maior espetáculo da terra.

No contagiante e alegre cenário do Carnaval a história do negro nunca é esquecida. Para se ter uma ideia, ao longo de muitos décadas de desfiles, grande parte das agremiações já mostraram em seus enredos alguns capítulos de valorização e preservação da trajetória do negro.

Viajando no tempo dos antigos carnavais , há verdadeiras obras de arte de enredos como o da escola de samba Camisa Verde e Branco “No tríduo Momo Negro é Capitão, é General… Poderia ser tanta coisa na Vida Real”, na década dos anos 80. Ou então no enredo “A Revolta da Chibata, Sonho, Coragem e Bravura. Minha História. João Candido Um Sonho de Liberdade” tema que foi censurado pelo regime militar na década de 70. Porém, reproduzido pela escola em 2003 e reeditado em 2017.

A Nenê de Vila Matilde, também no ano de 1982 com o enredo “Palmares Raízes de Liberdades”. Em 1997 a Nenê mostrava um outro importante capítulo da história da negritude com o enredo “Narciso Negro”. Considerada um dos grandes redutos da negritude da Zona Leste, a Nenê de Vila Matilde retratou dezenas vezes, com enredos comoventes a história do negro.

Na Unidos do Peruche não foi diferente. Além da história, a escola mostrou por diversos enredos, os costumes, a culinária típica, as crenças e a religiosidade afrodescendentes como em 1987 “Os Sete Tronos dos Divinos Orixás” imaginado pelo carnavalesco Joãozinho Trinta. E no desfile de 2008 com o enredo “Quilombos, Quilombolas, Kizomba, Meu Quilombo é Peruche”. Em 2019 a escola voltará a exaltar a história com o tema: “Nascem do Ventre Africano os Valores do Mundo. África, um passado presente no futuro da humanidade”.

Na mesma toada, a Mocidade Alegre também mostrou passagens emocionantes como: “Zumbi dos Palmares”, “Odisseia de Uma Raça” na década dos anos 70 e “Malungos Guerreiros Negros” em 1982. Em 2012 foi campeã daquele ano com “Ojuobá”, enredo que exalta as crenças e religiosidades dos negros.

A Vai Vai, com a proposta de ser a “escola do povo”, pretende no Carnaval de 2019 fazer um grande desfile, em forma de crítica, ao apresentar o enredo “O Quilombo do Futuro”.

Revista Sinotnia de Bambas 28