Revista Sesvesp Ed. 98 - Setembro / Dezembro 2010 | Page 48
ARTIGO
“O homem é
o resultado do
meio cultural
em que foi
socializado. Ele
é um herdeiro
de um longo
processo
acumulativo,
que reflete o
conhecimento
e a experiência
adquirida pelas
numerosas
gerações que o
antecederam”.
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O que acaba por reforçar a identidade do “nosso” grupo.
A civilização do “eu” acaba sendo representada como o espaço de cultura e civilização
por excelência, onde existe o saber, o conhecimento, o trabalho e o progresso. A sociedade
do “outro” é atrasada; são selvagens, primitivos. Não são humanos, segundo o ponto de vista
do grupo do “eu”.
O etnocentrismo é típico das relações entre colonizador e colonizado. O colonizador,
em sua maioria, julga que o povo que colonizou é inferior. Nem sabe como este existia sem
a influência deles, colonizadores, que são tão superiores. Desse modo, o colonizador não se
importa de destruir a cultura local.
A atitude etnocêntrica tem, por outro lado, um correlato bastante importante, sem dúvida
relevante para compreender a hostilidade que é reservada aos “outros”. Mesmo que ambos, o
“eu” e o “outro” estejam privilegiando o mesmo artifício, como por exemplo a estética, cada
um pensa na beleza de uma forma diferente. O que para um pode ser uma vestimenta para
o outro pode ser um objeto de decoração. Assim um objeto pode forjar a cultura original à
qual pertence, tendo mais de um significado em diferentes culturas.
Há evidências de etnocentrismo cordial. Ou seja, a diferença cultural é notória, causa o
choque, mas ao mesmo tempo é vista com admiração. Como uma nova forma antes não
percebida pelo “eu”. Assim, a cultura e o “outro”, são apenas representações. Uma imagem
distorcida que muitas vezes é manipulada, negando o mínimo de autonomia possível ao “outro”, tornando o “eu” o autor do “outro”, resultando em uma versão distorcida e distante
do que deveria ser.
O grupo central se valoriza e sente-se superior. No caso de o grupo aceitar o elemento
externo, ainda assim, faz uma leitura de si mesmo como bondoso, acolhendo o desfavorecido
e assim tentando oferecer o melhor para ele: A cultura do “eu”.
O “eu”, quando em grupo, acaba por anular o intercâmbio de culturas e impor a sua cultura. Até porque não consegue reconhecer a outra cultura como uma formação cultural. Ele
a vê apenas como um conjunto de hábitos.
Muito do comportamento etnocêntrico se baseia em preconceitos e largo desconhecimento. Cabe às lideranças ressaltar o que há de comum, valorizar o que há de diferente e
estabelecer um diálogo entre o “eu” e o “outro”. Nesse sentido, cabe às lideranças apontar
para um avanço do conhecimento e das relações, incentivando o diálogo/alteridade como
única ferramenta da democracia. Aqui faço um alerta às lideranças sindicais do segmento da
Segurança Privada deste grande Brasil: - Não deixem que, em nenhuma hipótese, o etnocentrismo tome conta das instituições que vocês representam, pois ele é destruidor e funciona
como uma grande tesoura de poda, que impede o crescimento do setor, das empresas, das
pessoas, dos profissionais, enfraquecendo o fortalecimento e a união de toda uma classe e
principalmente apequenando a democracia. Boa leitura e boas reflexões.
REVISTA SESVESP | SETEMBRO / DEZEMBRO 2010