Revista Sesvesp Ed 143 | Page 21

ARTIGO ELEIÇÃO CRÍTICA E TROCA DE GUARDA A eleição desse ano não deve ser encarada como o elefante da fábula in- diana apalpado pelos cegos. De cada ângulo emergindo retratos que embora pareçam plau- síveis estarão como o de quem lhe apalpou o rabo muito distantes de descrever o animal. Para enten- dê-la é indispensável classificá-la corretamente. E isso podia ser feito desde algum tempo antes. Ela não seria uma disputa normal, mante- nedora, cujos resultados são ante- cipados com facilidade pela geo- grafia eleitoral. Seria como foi, em nível paradigmático, uma “Eleição crítica”, conceito consolidado na literatura de ciência política (Key, 1955; Lavareda, 1991; Schimidt, 2018), onde as mãos que empu- nham o esfregão que dissolve os alinhamentos eleitorais pré-exis- tentes são o estresse de uma crise econômica severa, exacerbada po- larização ideológica e a emergên- cia de “terceiras vias” consistentes. Acrescentando-se agora a demo- lição da legitimidade do sistema político à esquerda e à direita pela operação Lava Jato com respaldo entusiasmado da mídia e o impea- chment de Dilma Rousseff sequen- ciado pela reprovação popular ao substituto Temer. Por Antonio Lavareda* representantes dos reinos vermelho e azul que por mais de vinte anos se alimentavam do próprio litígio. No primeiro, do eleitor sebastianis- ta ansioso pelo retorno de Lula e perplexo até as últimas semanas da campanha, uma vez confirmada a exclusão do ex-presidente seu can- didato, Haddad, retomou a maior parte do território, levando de rol- dão Marina Silva e contendo a linha ascensional de Ciro Gomes. O PT escapou à substituição na guarda da esquerda pelo impeachment que interrompeu o desgastante gover- no Dilma, responsável juntamente com as revelações da Lava Jato pela derrota acachapante que lhe sub- traiu 60% das prefeituras em 2016, varrendo-o das grandes cidades. Li- derar a oposição ao governo Temer marcado pela impopularidade foi a chave para recobrar sua base. Não obstante, obteve a menor votação desde 1994. No reino azul o proces- so foi mais dramático, tendo come- çado bem antes da campanha. “Eleição crítica”, conceito con- solidado na literatura de ci- ência política (Key, 1955; La- vareda, 1991; Schimidt, 2018), onde as mãos que empu- nham o esfregão que dissol- ve os alinhamentos eleitorais pré-existentes são o estresse de uma crise econômica se- vera, exacerbada polarização Os tucanos chegaram a ela com a ideológica e a emergência de imagem manchada pelo envolvi- “terceiras vias” consistentes. mento na Lava Jato, incluindo seu Todos esses vetores, com alta si- nergia, entregando à indignação e ao medo o protagonismo emocio- nal da disputa. Nesse cenário foram duramente atingidos os tradicionais ex-presidente apontado como réu pela Justiça. Para piorar, a partici- pação no novo governo, do qual se tornara parceiro no impeachment, virou uma bola de chumbo de al- gumas toneladas. Numa eleição em Revista SESVESP 21