Revista Sesvesp Ed 140 | Page 22

CENÁRIO POLÍTICO sideram que regalias suas como o auxilio moradia e outros quesitos são um “direito”, o que escandaliza os cidadãos que pagam impostos. Mas cabe aos demais poderes garantir aqueles privilégios, o que traz muita dependência diante dos que operam o Executivo e o Legislativo. Desgastado o princípio da autoridade nos três setores, toda ingerência de um nos outros só au- menta o caos institucional. Recordo o final do Império romano: cada político ou gene- ral tenta controlar o Estado, com a força e as tropas que lhes restam. Mas não existin- do mais um poder hegemônico (no caso de Roma era o Senado ou o imperador), nin- guém consegue manter o domínio por mais de meses. Tal fato enfraqueceu Roma e a colocou ao dispor das invasões bárbaras. [RS] Existe espaço para um próximo(a) presidente propor e liderar uma Reforma Política. [RR] Não. Uma reforma política efetiva precisa sair da base social, desde os traba- lhadores aos empresários, passando por se- tores interessados na melhoria do país. Dis- se um político importante do passado que a guerra é coisa muito séria, tão séria que não deveria estar nas mãos dos militares. O mesmo para a política, ela não pode depen- der apenas deles. Já no primeiro projeto de 22 Revista SESVESP “A lógica dos políticos é permanecer nos cargos, ou subir para outros, mais relevantes. Uma reforma po- lítica efetiva começaria mudando a configuração dos partidos (...)” “reforma”, os detentores de mandato exi- giam que na proposta lista de candidatura, os eleitos estivessem em primeiro lugar. A lógica dos políticos é permanecer nos cargos, ou subir para outros, mais relevan- tes. Uma reforma política efetiva começa- ria mudando a configuração dos partidos: exigência de renovação das direções, com mandatos diretivos de no máximo 2 anos (quem fica no comando por mais tempo controla o cofre e tudo o mais), exigência de eleições primárias para as candidaturas mais importantes, controle maior das bases sobre as direções, obediência, nas alian- ças, das doutrinas propagadas nos progra- mas um partido liberal se alia a outro de doutrina próxima, um partido conserva- dor, progressista, idem, o que se nota nas eleições brasileiras é a prática das alianças ao modelo de Frankenstein, partidos que deveriam se combater e buscar o conven- cimento dos eleitores para suas propostas, se unem apenas para eleger indivíduos ou grupos. O desastre é certo. E a suposta Jus- tiça eleitoral faz ouvidos surdos a teratolo- gias semelhantes. Sobre a reforma política e seus problemas, dei uma longa entrevista à TV da Câmara dos Deputados. Nela, mui- tos itens foram discutidos com minúcia. [RS] A sociedade brasileira está preparada e conscientizada do poder presidencial? [RR] A sociedade brasileira, infelizmente, foi preparada para um presidencialismo im- perial. O presidente da república é um gi- gante institucional com pés de barro. A ele foram atribuídos imensos poderes, mas ele sempre dependeu das oligarquias regionais que lhe trazem legitimidade nos Estados e municípios. A concentração de poderes no Executivo federal (impostos e monopólio das políticas públicas) faz do presidente no começo do mandato um salvador da pátria. No meio, uma pessoa isolada. No final, al- guém a quem se deve culpar por tudo o que há de errado no país. Assim foi com Var- gas, com Juscelino, Quadros, os generais, Collor, Da Silva e outros. A alternância dos papéis (de salvador a bode expiatório) mostra o quanto a distribuição do poder e de autoridade é desequilibrada no país. A sociedade não assume, hoje e nos próximos tempos, a tese democrática de que nela re- side o poder efetivo e de que os poderes são apenas instrumentos de sua força.