CENÁRIO POLÍTICO
sideram que regalias suas como o auxilio
moradia e outros quesitos são um “direito”,
o que escandaliza os cidadãos que pagam
impostos. Mas cabe aos demais poderes
garantir aqueles privilégios, o que traz
muita dependência diante dos que operam
o Executivo e o Legislativo. Desgastado
o princípio da autoridade nos três setores,
toda ingerência de um nos outros só au-
menta o caos institucional. Recordo o final
do Império romano: cada político ou gene-
ral tenta controlar o Estado, com a força e
as tropas que lhes restam. Mas não existin-
do mais um poder hegemônico (no caso de
Roma era o Senado ou o imperador), nin-
guém consegue manter o domínio por mais
de meses. Tal fato enfraqueceu Roma e a
colocou ao dispor das invasões bárbaras.
[RS] Existe espaço para um próximo(a)
presidente propor e liderar uma Reforma
Política.
[RR] Não. Uma reforma política efetiva
precisa sair da base social, desde os traba-
lhadores aos empresários, passando por se-
tores interessados na melhoria do país. Dis-
se um político importante do passado que
a guerra é coisa muito séria, tão séria que
não deveria estar nas mãos dos militares. O
mesmo para a política, ela não pode depen-
der apenas deles. Já no primeiro projeto de
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Revista SESVESP
“A lógica dos políticos é permanecer
nos cargos, ou subir para outros,
mais relevantes. Uma reforma po-
lítica efetiva começaria mudando a
configuração dos partidos (...)”
“reforma”, os detentores de mandato exi-
giam que na proposta lista de candidatura,
os eleitos estivessem em primeiro lugar.
A lógica dos políticos é permanecer nos
cargos, ou subir para outros, mais relevan-
tes. Uma reforma política efetiva começa-
ria mudando a configuração dos partidos:
exigência de renovação das direções, com
mandatos diretivos de no máximo 2 anos
(quem fica no comando por mais tempo
controla o cofre e tudo o mais), exigência
de eleições primárias para as candidaturas
mais importantes, controle maior das bases
sobre as direções, obediência, nas alian-
ças, das doutrinas propagadas nos progra-
mas um partido liberal se alia a outro de
doutrina próxima, um partido conserva-
dor, progressista, idem, o que se nota nas
eleições brasileiras é a prática das alianças
ao modelo de Frankenstein, partidos que
deveriam se combater e buscar o conven-
cimento dos eleitores para suas propostas,
se unem apenas para eleger indivíduos ou
grupos. O desastre é certo. E a suposta Jus-
tiça eleitoral faz ouvidos surdos a teratolo-
gias semelhantes. Sobre a reforma política
e seus problemas, dei uma longa entrevista
à TV da Câmara dos Deputados. Nela, mui-
tos itens foram discutidos com minúcia.
[RS] A sociedade brasileira está preparada
e conscientizada do poder presidencial?
[RR] A sociedade brasileira, infelizmente,
foi preparada para um presidencialismo im-
perial. O presidente da república é um gi-
gante institucional com pés de barro. A ele
foram atribuídos imensos poderes, mas ele
sempre dependeu das oligarquias regionais
que lhe trazem legitimidade nos Estados e
municípios. A concentração de poderes no
Executivo federal (impostos e monopólio
das políticas públicas) faz do presidente no
começo do mandato um salvador da pátria.
No meio, uma pessoa isolada. No final, al-
guém a quem se deve culpar por tudo o que
há de errado no país. Assim foi com Var-
gas, com Juscelino, Quadros, os generais,
Collor, Da Silva e outros. A alternância
dos papéis (de salvador a bode expiatório)
mostra o quanto a distribuição do poder e
de autoridade é desequilibrada no país. A
sociedade não assume, hoje e nos próximos
tempos, a tese democrática de que nela re-
side o poder efetivo e de que os poderes são
apenas instrumentos de sua força.