POLÍTICA
Depois disso, os petistas viveram o pior
fiasco eleitoral de sua história, durante as
eleições municipais de 2016. O partido
perdeu 60% das prefeituras que tinha e,
nas grandes cidades brasileiras, as 92 que
têm mais de 200 mil eleitores, essa perda
chegou a 95%. O PT administrava 17 pre-
feituras e hoje só tem uma. Em terceiro lu-
gar, o que se apresenta como um epílogo
vem a ser o julgamento de Lula na segunda
instância. Essa tríade de fatores foi absolu-
tamente devastadora para o Partido.
Em curto prazo, não vejo a possibilida-
de, nesse ciclo eleitoral, ou no próximo, do
PT voltar à presidência. Mas não é impos-
sível, entretanto, que o PT se reconstrua.
Isso já ocorreu. O Partido Socialista Ope-
rário Espanhol (PSOE) já viveu isso, par-
tidos de direita também; o Partido Socia-
lista de Portugal teve o primeiro-ministro,
Sócrates, preso, e hoje está no governo. É
possível sim, os partidos se reinventarem.
Na Alemanha, a UCD viu seu grande
condutor, Helmut Kohl, que fez a reuni-
ficação do país, uma das maiores tarefas
de engenharia política do mundo, no pós-
-guerra, sendo incriminado em processo
no qual ele se tornou réu por caixa dois.
Mas a UCD se reergueu e há mais de uma
década governa o país.
Por isso, é preciso ter muito cuidado
para não se fazer prognósticos que, às ve-
zes, são manifestações de nossa vontade.
Lula deixou de ter uma candidatura.
Virou um estratagema de marketing elei-
toral. Nessa campanha, o PT vai perseguir
a ideia de que o eleitor pense que votar no
candidato apoiado por Lula é um gesto de
reparação à condenação sofrida por ele. E
pretende que, ao final da campanha, isso
se confunda com a imagem de um candi-
dato específico. Seja o ex-governador Ja-
ques Wagner, seja o ex-prefeito Fernando
Haddad. Para fazer isso, dois temas serão
importantes na campanha do PT. O tema
do golpe, porque é a forma que tem para
não apontar os descaminhos do governo
de Dilma Rousseff, e o tema da injustiça
perpetrada na condenação. Isso vai pra-
ticamente substituir qualquer campanha
propositiva, além de tentar recuperar os
feitos do governo Lula intensamente. Mas
a eficácia eleitoral disso não está assegura-
da e aí reside a esperança de outros candi-
datos do campo da esquerda.
Quem enxergou o “perigo” de Bolsona-
ro ser eleito, não deve desdenhar também
das chances de Marina Silva. A fórmula da
passagem dela para o segundo turno seria
repetir o desempenho que teve em 2014.
Foram 20 pontos, praticamente o mesmo
desempenho de 2010. E, além disso, a
mesma ainda pode arrebanhar uma peque-
na parte dos votos lulistas.
Outra interrogação será o desem-
penho do candidat o do PDT, Ciro Go-
mes, experiente em duas eleições
presidenciais, combativo, com bom currí-
culo administrativo e ávido por participar
do espólio lulista.
A última e relevante interrogação diz
respeito às candidaturas do centro. Esse
espaço apresentará diversos outros can-
didatos além do governador Geraldo Al-
ckmin, ou apenas duas ou mesmo uma
candidatura? Isso terá tudo a ver com a
maior ou menor possibilidade do centro
garantir sua presença no segundo turno,
com uma grande probabilidade de obter a
vitória ao final. ■
* Antonio Lavareda é doutor em Ci-
ência Política (IUPERJ) e mestre em So-
ciologia (UFPE). É autor de 11 livros.
Coautor de “Neuropropaganda de A a
Z” (2016), Coorganizador de “A lógica
das Eleições Municipais” (2016), “Voto
e Estratégia de Comunicação Política na
América Latina” (2015) e “Como o Elei-
tor Escolhe seu Prefeito: Campanha e Voto
nas Eleições Municipais” (2011). Autor,
dentre outros, de “Emoções Ocultas e Es-
tratégias Eleitorais” (2009) e “Democracia
nas Urnas” (1999). Apresentador, ao lado
de Mônica Bergamo, do programa Ponto a
Ponto pela Bandnews TV.
Revista SESVESP
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