Revista Sesvesp Ed 138 | Page 13

POLÍTICA Depois disso, os petistas viveram o pior fiasco eleitoral de sua história, durante as eleições municipais de 2016. O partido perdeu 60% das prefeituras que tinha e, nas grandes cidades brasileiras, as 92 que têm mais de 200 mil eleitores, essa perda chegou a 95%. O PT administrava 17 pre- feituras e hoje só tem uma. Em terceiro lu- gar, o que se apresenta como um epílogo vem a ser o julgamento de Lula na segunda instância. Essa tríade de fatores foi absolu- tamente devastadora para o Partido. Em curto prazo, não vejo a possibilida- de, nesse ciclo eleitoral, ou no próximo, do PT voltar à presidência. Mas não é impos- sível, entretanto, que o PT se reconstrua. Isso já ocorreu. O Partido Socialista Ope- rário Espanhol (PSOE) já viveu isso, par- tidos de direita também; o Partido Socia- lista de Portugal teve o primeiro-ministro, Sócrates, preso, e hoje está no governo. É possível sim, os partidos se reinventarem. Na Alemanha, a UCD viu seu grande condutor, Helmut Kohl, que fez a reuni- ficação do país, uma das maiores tarefas de engenharia política do mundo, no pós- -guerra, sendo incriminado em processo no qual ele se tornou réu por caixa dois. Mas a UCD se reergueu e há mais de uma década governa o país. Por isso, é preciso ter muito cuidado para não se fazer prognósticos que, às ve- zes, são manifestações de nossa vontade. Lula deixou de ter uma candidatura. Virou um estratagema de marketing elei- toral. Nessa campanha, o PT vai perseguir a ideia de que o eleitor pense que votar no candidato apoiado por Lula é um gesto de reparação à condenação sofrida por ele. E pretende que, ao final da campanha, isso se confunda com a imagem de um candi- dato específico. Seja o ex-governador Ja- ques Wagner, seja o ex-prefeito Fernando Haddad. Para fazer isso, dois temas serão importantes na campanha do PT. O tema do golpe, porque é a forma que tem para não apontar os descaminhos do governo de Dilma Rousseff, e o tema da injustiça perpetrada na condenação. Isso vai pra- ticamente substituir qualquer campanha propositiva, além de tentar recuperar os feitos do governo Lula intensamente. Mas a eficácia eleitoral disso não está assegura- da e aí reside a esperança de outros candi- datos do campo da esquerda. Quem enxergou o “perigo” de Bolsona- ro ser eleito, não deve desdenhar também das chances de Marina Silva. A fórmula da passagem dela para o segundo turno seria repetir o desempenho que teve em 2014. Foram 20 pontos, praticamente o mesmo desempenho de 2010. E, além disso, a mesma ainda pode arrebanhar uma peque- na parte dos votos lulistas. Outra interrogação será o desem- penho do candidat o do PDT, Ciro Go- mes, experiente em duas eleições presidenciais, combativo, com bom currí- culo administrativo e ávido por participar do espólio lulista. A última e relevante interrogação diz respeito às candidaturas do centro. Esse espaço apresentará diversos outros can- didatos além do governador Geraldo Al- ckmin, ou apenas duas ou mesmo uma candidatura? Isso terá tudo a ver com a maior ou menor possibilidade do centro garantir sua presença no segundo turno, com uma grande probabilidade de obter a vitória ao final. ■ * Antonio Lavareda é doutor em Ci- ência Política (IUPERJ) e mestre em So- ciologia (UFPE). É autor de 11 livros. Coautor de “Neuropropaganda de A a Z” (2016), Coorganizador de “A lógica das Eleições Municipais” (2016), “Voto e Estratégia de Comunicação Política na América Latina” (2015) e “Como o Elei- tor Escolhe seu Prefeito: Campanha e Voto nas Eleições Municipais” (2011). Autor, dentre outros, de “Emoções Ocultas e Es- tratégias Eleitorais” (2009) e “Democracia nas Urnas” (1999). Apresentador, ao lado de Mônica Bergamo, do programa Ponto a Ponto pela Bandnews TV. Revista SESVESP 13