" QUEM ENXERGOU O ' PERIGO ' DE BOLSONARO SER ELEITO , NÃO DEVE DESDENHAR TAMBÉM DAS CHANCES DE MARINA SILVA
POLÍTICA
UMA ELEIÇÃO IMPREVISÍVEL
" QUEM ENXERGOU O ' PERIGO ' DE BOLSONARO SER ELEITO , NÃO DEVE DESDENHAR TAMBÉM DAS CHANCES DE MARINA SILVA
Por Antonio Lavareda *
A saída de Lula da disputa eleitoral , que se cristaliza agora , após a condenação unânime pela Justiça , em segunda instância , corrobora uma avaliação que expressei desde setembro do ano passado . Naquela ocasião , eu afirmei em uma entrevista à revista IstoÉ que a chance dele disputar a presidência da República em 2018 era próxima de zero .
No meu entendimento , Lula já está
Antônio Lavareda , cientista político
Foto : Renata Castello Branco compulsoriamente fora desta eleição . Não sendo candidato , o que se especula é qual a força eleitoral que ele detém . Em um primeiro momento , as pesquisas ainda apontam a liderança do ex-presidente no cenário da disputa , que se reforça também em decorrência do apelo , derivado de um momento emocional . Mas o importante mesmo é saber para onde irão os votos de Lula . Outra constatação importante decorre do fato de que o segundo pré-candidato melhor avaliado , Jair Bolsonaro , não ser competitivo para se eleger , pois não apresenta condições de ganhar uma eleição no segundo turno . O voto de Bolsonaro se concentra em eleitores mais jovens , de 16 a 35 anos . E a rejeição a ele é a maior dentre os candidaturas plausíveis . O medo que alguns setores demonstram em relação à possível eleição do ex-capitão do Exército não se justifica . Mas a incógnita sobre o destino dos votos de Lula permanece . Apenas uma pequena parcela de seus eleitores com menor taxa de informação poderá migrar para Bolsonaro , conforme as pesquisas indicam . E os candidatos de centro que acharem que podem ser beneficiários diretos da ausência do líder petista na eleição correm o risco provável da frustração dessa expectativa . Na verdade , os eleitores se comportam de uma forma mais ou menos regular eleição a eleição e por isso se constituem “ mercados ” político-eleitorais . É fácil perceber isso quando se observa que , nas pesquisas em que eleitores dizem não saber em quem votar na ausência do Lula , os possíveis candidatos opcionais do PT , o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad e o ex-governador da Bahia , Jaques Wagner , aparecem com 2 % e 3 %, respectivamente . Porém , 29 % desses entrevistados também afirmam que votarão no candidato do Lula . Quando os nomes de Haddad e Wagner são apresentados como possíveis indicações do ex- -presidente , seus percentuais saltam para 13 % e 15 %, respectivamente , segundo pesquisa do Datafolha , em novembro . Vale lembrar que Lula foi candidato em quatro eleições presidenciais e teve papel decisivo m outras duas : 2010 e 2014 , elegendo Dilma Rousseff . Em 2010 , Dilma tinha pouca expressão , que a tornava praticamente uma candidata nanica . E , um ano antes , parecia até mesmo que o PT não conseguiria viabilizar uma candidatura . Naquela eleição , Lula foi o fator decisivo da vitória , foi o grande eleitor .
Deve-se ainda levar em conta o fato de o PT estar enraizado na sociedade brasileira . É o partido que tem 20 % de preferência do eleitorado , enquanto a segunda sigla aparece com 5 %. Ele possui uma forte ligação com a base da sociedade , o que é muito importante porque quase metade dos eleitores têm renda familiar de até dois salários . Claro que o PT está poderosamente afetado pela crise política e seus problemas na Justiça . Entre os problemas sérios que o partido acumula , destaca-se a falência da governabilidade no segundo governo Dilma .
12 Revista SESVESP