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FISCALIZAÇÃO
PROTEÇÃO DAS
FRONTEIRAS
O impacto dos cortes de gastos da Polícia Federal na segurança
nos limites do país ainda é uma incógnita
N
o início do ano, o governo federal anunciou uma política
de corte de gastos que, projetada para durar um ano, deve
ajeitar as contas da casa. Embora já
tenha sido definido quanto cada ministério terá de economizar por mês, ainda não se sabe como a contenção será
repassada para cada área. Os meios de
comunicação, porém, já vêm discutindo
os reflexos do orçamento enxuto, dando
atenção especial para a segurança nas
fronteiras do país.
Segundo o diretor de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, Oslain Santana, até agora nenhum corte foi
repassado. “Nos últimos quatro anos,
não ficamos sem recursos e o que se
anuncia de redução para este ano ainda não nos afetou”, afirma. “A concessão
de gastos negada pela presidente Dilma
Rousseff era referente ao acréscimo de
recursos, à verba extra.”
Apesar de ressaltar que, nos últimos
12 anos, o efetivo tenha subido de 7
mil para 12 mil funcionários, Santana
lembra que o trabalho da Polícia Federal não é simples e exige a ampliação
da mão de obra. “Não basta identificar
quem cometeu o crime. É preciso ter
provas para acusar. Uma investigação
exige uma equipe”, explica. E completa:
“Hoje, temos um efetivo razoável, mas
as atividades poderiam melhorar com o
aumento do nosso pessoal”.
DROGAS E ARMAS
Na análise do diretor da Polícia Federal, focar no policiamento nas fronteiras
não basta para eliminar o comércio de
drogas e armas, pois, enquanto houver
mercado consumidor, haverá tráfico e
violência. “É preciso saber para onde vão
essas drogas e armas e interromper esse
comércio. Sem isso, fica impossível controlar totalmente as regiões de divisas”, avalia.
“Basta ver os Estados Unidos, que mantêm
uma enorme estrutura de segurança, mas
não conseguem cessar o tráfico de heroína
originário do México”, compara.
Entretanto, pesquisa do Instituto de
Desenvolvimento Econômico e Social das
Fronteiras (Idesf) aponta que, do total de
30 cidades-gêmeas brasileiras (cidades
vizinhas e semelhantes econômica e socialmente, separadas apenas pela linha
da fronteira), somente metade contava
com a presença da Polícia Federal na região em 2012. Esses municípios registraram uma média de quase 37 homicídios
por 100 mil habitantes, índice superior
aos 29 computados no restante do país.
Cidades-gêmeas recebem atenção extra
no estudo das divisas do Brasil com outros países, pois são regiões estratégicas
para o contrabando. Ainda é difícil saber
como o orçamento de 2015 vai afetar esses municípios, mas se espera que o corte
de R$ 72 milhões mensais do Ministério
da Justiça não interrompa o importante
trabalho que a Polícia Federal executa
não apenas nessas, mas em todas as localidades da fronteira brasileira.
Revista SESVESP | 9