Revista Sesvesp Ed. 105 - Janeiro / Fevereiro 2012 | Page 38
Opinião
De um total de mais de seis milhões
de imóveis com condições de receber
sistemas de alarmes monitorados
no Brasil, apenas 11% efetivamente
têm esses serviços (700 mil imóveis);
enquanto o número de imóveis com TV
por assinatura passou da casa dos 13
milhões no último mês de janeiro”
controle de acesso somente
depois de um forte trauma,
de perdas significativas de
bens materiais ou até de vidas. Então, que tal comprar
uma apólice de seguro para
o veículo ou usar cintos de
segurança somente a partir
do primeiro acidente? (se
sobreviver, puder dirigir
novamente e tiver dinheiro para pagar a oficina ou
comprar um novo carro). Em
casa, que tal colocar álcool, remédios e produtos de
limpeza fora do alcance das
crianças somente após as
primeiras queimaduras e
intoxicações?
Revista SESVESP
|38| janeiro / fevereiro 2012
Um dos segmentos da
segurança que mais cresce
atualmente no Brasil é o da
eletrônica, porém ainda está
longe do potencial gerado
por um país com 190 milhões
de habitantes. Temos hoje
cerca de um milhão de câmeras auxiliando na segurança dos brasileiros. Com
um quarto da nossa população e índices de violência
bem menores, a Inglaterra
tem mais de 3 milhões de
câmeras somente em áreas
públicas, enquanto a China,
só em 2010, instalou mais
de 10 milhões de câmeras.
De um total de mais de seis
milhões de imóveis com condições de receber sistemas
de alarmes monitorados no
Brasil, apenas 11% efetivamente têm esses serviços
(700 mil imóveis); os demais
89% participam diariamente
das brincadeiras “coisa ruim
só acontece com os outros”
ou “quando tem que acontecer, acontece”, enquanto
o número de imóveis com
TV por assinatura passou
da casa dos 13 milhões no
último mês de janeiro.
É preciso mudar a cultura
da segurança preventiva no
País, volto a repetir. E para
isso, essa mensagem terá
de ser trabalhada exaustivamente. Voltando aos cintos de segurança, quantos
‘senões’, quanta resistência, quanta demora, para
– enfim – reconhecermos
e usufruirmos dos inegáveis benefícios preventivos deste equipamento? A
grosso modo, podemos dizer
que os cintos estão para os
acidentes automobilísticos
como os alarmes e as câmeras de segurança estão
para os crimes.
Os cintos não evitam uma batida,
mas minimizam
as conseqüências;
um vigilante, um
sensor de presença e uma câmera têm um forte
apelo à prevenção
de delitos e quando não os evitam,
contribuem para
a diminuição do
tempo da ocorrência, minimizam os
prejuízos e ajudam
na identificação
dos autores.
Quer um outro exemplo?
Recentemente, a prefeitura
de uma grande cidade brasileira noticiou a instalação
de 100 câmeras inteligentes em pontos estratégicos
do centro. A “inteligência”
é um software que identifica vários eventos indesejáveis (pessoas pulando um
muro ou veículos na contramão, por exemplo) que,
quando ocorrem, disparam
um alarme na tela do monitor e chamam a atenção
do vigilante de plantão da
central de monitoramento
24 horas (ou alguém acredita que uma pessoa, após 15
minutos de trabalho nesta
função, consegue manter o
nível de concentração necessário para olhar 16 câmeras divididas em pequenos
retângulos num monitor de
20 polegadas e identificar
todas movimentações suspeitas?).
Você, cidadão de bem,
deve estar achando ótimo a
instalação dessas câmeras,
não é? Pois saiba que há vários tipos de resistências: os
que dizem “os equipamentos
são bons, mas não adianta
instalar se não tiver mão de
obra adequada para operar”
poderiam mudar o discurso
para “ótima notícia, mas vamos comprar também um
programa de treinamento
e reciclagem dos operadores”. Uma das manchetes dos
jornais chamou os equipamentos de “câmeras dedo-duro”, dando uma conotação pejorativa a uma ótima
solução para melhoria da
segurança pública. Assim
fica difícil avançarmos: que
tal renomear para “câmeras
olho-vivo”?