Revista Sesvesp Ed. 100 - Março / Abril 2011 | Page 42
polêmica
minosos que abalam e revoltam até
os mais esclarecidos. Já a atividade
extra-corporação acarreta sérias conseqüências tanto a nível profissional,
como em termos pessoais.
Profissionalmente o chamado
‘bico’, sendo exercido nas horas de
folga, leva o policial ao “stress” físico
e mental em pouco tempo. Muitas vezes trabalhando durante toda a noite
na PM, policiais deixam o necessário
repouso para trabalharem fora durante o dia, o que traz como conseqüência que venha a dormir durante
seu serviço, seja na PM seja no ‘bico’.
Os que trabalham de manhã vivem o
mesmo regime, apenas invertendo-se
os horários. Neste dia-a-dia, muitos
são vitimados nas ações por estarem
fisicamente pouco dispostos.
Ainda no campo profissional, ocorre que por vezes, o “bico” paga mais
que o Governo, o que leva o policial
a ser mais pontual e melhor cumpridor do seu dever fora da corporação,
passando, em pouco tempo, a desprezar sua profissão principal. Com este
sentimento acaba por ser um profissional tendente ao relaxo, ao pouco
caso, à ausência de empenho.
O “bico” é voraz, implacável; não
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O número de divórcios
na PM é grande, mesmo
assustador; os suicídios
também ocorrem, mas
não com tanta freqüência.
A causa não é o regime
militar como querem
alguns, mas o baixo
salário que leva o homem
a buscar seu sustento
fora da Corporação
”
concede folgas, não dá garantias, pode
fazer do PM um mercenário. Logo o
policial pode passar a ver a PM como
“bico”, e o “bico” como profissão. É
no “bico” que muitos morrem, já que
esta atividade, via de regra, constitui-se em segurança patrimonial ou
pessoal; é no “bico” que surgem as
corrupções, as inversões de papéis,
sendo freqüente que o superior hierárquico seja comandado por seu subordinado.
A vida pessoal do policial, também aí encontra sua ruína. Com pouco
tempo para a família - já que nas horas de folga está trabalhando -, massacrado por um “stress” desumano,
estará exposto a vícios de bebidas e
drogas. O número de divórcios na
PM é grande, mesmo assustador; os
suicídios também ocorrem, mas não
com tanta freqüência. A causa não
é o regime militar como querem alguns, mas o baixo salário que leva o
homem a buscar seu sustento fora
da Corporação.
Vemos que – como sempre aliás
– ataca-se a PM por fatos dos quais
ela é a primeira vítima. O Estado é o
primeiro responsável pela pés-sima
distribuição de rendas no país, pela
insuportável concentração humana
nos grandes centros, e pelas conseqüências claras destas omissões. Aí
nascem as favelas, as crianças de rua,
os inúmeros vícios, os crimes. A Polícia Militar sofre implacavelmente
todos esses efeitos, pois como já dissemos, está visceralmente ligada a
eles. Igualmente, é o próprio Estado
que coloca o PM no interior de uma
favela para perseguir traficantes armados até os dentes, com apenas um
revólver nas mãos. Nesta circunstância a violação de direitos humanos é
eminente já que o PM tem que cumprir seu dever e, ao mesmo tempo,
defender sua vida”.
Já Sérgio Ricardo dos Santos, Presidente do Sindicato da Categoria Profissional dos Trabalhadores e de Empregados em Vigilância e Segurança
Privada, Conexos e Similares e Região
de Sorocaba, diz que “não somos contra o ‘bico’, desde que para exercer
a função de vigilância, ele tenha a
formação adequada e a Carteira Nacional do Vigilante. O problema do
bico é o desgaste que esse profissional terá, acumulando horas e horas
de trabalho, com pouco descanso. E
é claro que essa piora na qualidade
de vida do policial acabará refletida
na qualidade do serviço prestado à
sociedade. Enquanto isso, há milhares de vigilantes desempregados em
busca de uma recolocação”.