Revista Primeira Impressão Setembro 2013 | Page 28

POEMA Capitu Seus olhos me fazem convites irresis veis Como dois gritos por entre grutas desertas Como um peregrino desprevenido diante do oráculo Como o barulho de almas an gas se afogando em vinho Seus olhos me fazem convites irrecusáveis Como dois pierrôs com suas colombinas Dançando duas polcas e várias agonias Seus olhos são um grito dentro da minha alma São duas comédias com sabor de pipoca e manteiga Duas feiras de frutas frescas, dois desejos descobertos Dois perfumes destampados, dois pecados confessados Seus olhos são dois anjos nus deitados no paraíso Dois buquês entregues e correspondidos, dois beijos escondidos, dois lábios redimidos São dois abraços de amigo, dois sorrisos de meninos São dois pores- do-sol emoldurados por oceanos Seus olhos me fazem convites matreiros Eu me perco dentro deles, são tão alvissareiros E me perco por querer, só por desejar lhe ver São dois lençóis em noite fria, dois café quentes ao amanhecer Dois gozos, dois gemidos, dois corpos retorcidos Seus olhos são dois escândalos, duas voltas de montanha russa Duas cambalhotas de prazer, dois êxtases em lhe ter Eles extorquem a minha alma Roubam-na de todo autocontrole Seus olhos são duas revoluções, duas guilho nas Dentre deles cabem o bem e o mau do mundo Eu me perco dentro deles, são tão alvissareiros Lindos e sorrateiros – olhos de ressaca – tão fortes como o mar Posso até sen r o gosto do sal na minha boca Me deixa nadar dentro deles? Seus olhos guardam a luz do mundo. Por Rodeildo Clemente 28 | Revista Primeira Impressão