Revista Primeira Impressão Setembro 2013 | Page 26

ARTIGO VIOLÊNCIA E JUVENTUDE: FACES DE UMA MESMA MOEDA NO DISCURSO MIDIÁTICO Por Ígrid Bergman No Brasil, os jovens são percebidos pela mídia dentro de duas perspec vas: consumidores ou infratores. Um bom exemplo no primeiro caso são os programas de entretenimento que vinculam-se a grandes empresas de comunicação para vender seus produtos sem nenhum comprome mento pedagógico, mas com a ?nalidade estrita de consumo pelo consumo. No caso da perspec va dos jovens enquanto infratores, a realidade da m í d i a é a i n d a p i o r. O s c r i m e s come dos por jovens – que são exceção – acabam virando regra pela repe ção efetuada pelos meios de comunicação. A anormalidade, nesse caso, vira normalidade, e portanto, fato comum, gerando a sensação (proposital, diga-se de passagem) de que juventude e violência são sinônimos. Nesse sen do, a ideia vendida pela mídia é de que os jovens infratores precisam ser freados, tranca?ados, isolados da socieda- de. Enquanto esta, em contrapar da, compra a ideia sem fazer uma re?exão sobre as causas e consequências da violência entre os jovens, pois tudo se resolve dentro da máxima midiá ca de que “a maldade humana não tem limites nem solução”. Agora, devemos ques onar a que se deve essa intenção da mídia em querer deturpar a realidade ao no ciar à exaustão crimes come dos por jovens? Nos úl mos meses, re a c e n d e u co m fo rça to ta l a s discussões sobre a diminuição da maioridade penal. Muitos veículos de comunicação – que ao invés de preocupar-se com o caráter informa vo, se regozijam em en?ar a i n d a m a i s a fa ca n o p e i to d e famílias que sofrem - ins gam na população um sen mento de raiva e desejo de desforra, no intuito de legi mar uma lei que apenas eleva o percentual de jovens encarcerados com reduzidas probabilidades de melhoramento social, econômico ou pessoal. No Brasil, mais de 30% da polução carcerária tem entre 18 e 24 anos e 26% entre 25 e 29 anos. Esses números implicam que mais da metade da população carcerária brasileira são formadas por jovens. Mas o que esses números querem realmente dizer? Me arrisco a um palpite. Os jovens brasileiros passam por uma carência de ritual de passagem para a vida adulta. Ter acesso a uma “adul ce” digna é coisa di cil numa sociedade pautada pelo consumo, ausência de signi?cados, de limites e excesso de obstáculos materiais e sociais. An gamente, entrar no mercado de trabalho podia ser esse rito de passagem para o mundo dos adultos, por que implicava o acesso ao casamento, à família e às responsabilidades. Hoje, com as perspec vas que rodeiam a juventude, torna a condição de ser jovem um desa?o que não será resolvido pela simples diminuição da maioridade penal. O buraco é muito mais embaixo e só a grande mídia parece que não viu, talvez por não ser um buraco de bala. 26 | Revista Primeira Impressão