ARTIGO
FUI UM ESPECTADOR PRIVILEGIADO, E AINDA PUDE acompanhar meus atletas brasileiros. Assisti a todas as sessões da noite, exceto a de domingo, quando já voltava ao Brasil. Para mim, um“ torcedor brasileiro” no Ninho do Pássaro, a mais memorável foi a do dia 24. Durante todo o tempo torci baixinho por alguém: Keila na final do salto triplo, Augusto na do salto com vara, Rosângela na semifinal dos 100 m, Julio lutando por uma vaga na final do dardo... voltei para o hotel e dormi feliz com nossa atuação, não ficou faltando nenhuma medalha para me deixar com esse sentimento.
Em Pequim estivemos em cinco finais. Dentro de nossa média histórica( que são 4,93 finais por campeonato, considerando top 12 nas provas que são final direto), mas certamente menos do que poderíamos ter realizado, principalmente quando comparamos com Moscou, quando tivemos nove finalistas. Sim, foi em Moscou, de onde voltamos sem medalha e com gente dizendo que os resultados foram decepcionantes, que tivemos nossa melhor participação coletiva da história! Precisamos de ajustes, mas a meta de termos 10 finalistas em Mundiais e Jogos Olímpicos ainda me parece muito concreta, mesmo no curtíssimo prazo.
Ajustes também precisarão fazer os Estados Unidos( de 31 medalhas previstas, levaram 18), Rússia( campeã em 2013 com 17 medalhas, agora ganhou 4), França( exemplo de organização, esporte escolar funcionando, grande número de clubes e treinadores, recursos financeiros, excelente calendário de competições... e duas medalhas de bronze), Itália( parecido com a França, mas sem medalha), Espanha( apesar da crise, uma estrutura incomparavelmente melhor que a nossa, e uma medalha)... esse mundo está ficando mesmo muito competitivo!
Quem tem feito os ajustes com sucesso são Canadá, Polônia e Alemanha, todos com oito medalhas. Na Alemanha e Polônia o Atletismo é muito popular. O Canadá, por outro lado, foi a sede em 2001 do Campeonato Mundial onde não ganhou nada... trabalho muito bem feito, principalmente porque sabemos o quão difícil é realizá-lo. Não tenho dúvidas de que algumas coisas precisam ser revistas, mas é importante pensar com cabeça fria, para tomar decisões que visem o bem maior. Vivemos um momento do“ nós” contra“ eles”... Ainda não nos demos conta que somos todos“ nós”. Não há mocinhos sem os quais o Atletismo brasileiro estaria perdido, tampouco vilões responsáveis por tudo que não dá certo. Estamos todos no mesmo barco, mas ainda tem gente que teima em tentar abrir um rombo no casco bem embaixo do assento do outro... será que se o barco afundasse, não iríamos todos juntos?
TEMOS TIDO A FELICIDADE DE PRODUZIR MEDALHISTAS em competições globais, desde 1999. Todos lembram dos ouros olímpicos, mas antes e depois de 2008 tivemos outras conquistas também. Lembro de cada uma, e do quanto foram difíceis, sempre com emoção! Mesmo com a quantidade de medalhistas que temos, continuo achando muito difícil medalhar em uma competição grande, embora tenha a convicção que, daqui a pouco, o faremos de novo. É por isso que respeito tanto os treinadores que já conseguiram. NÃO É FÁCIL!
Mesmo tendo percorrido esse caminho algumas vezes, não me vejo em posição de ditar regras ou apontar dedos, mas tenho visto muita gente com a solução pronta. De uma maneira geral, a maioria tem razão... só não se dão conta que a grande dificuldade é transformar ideias genéricas em ações que tragam resultados práticos. Um dos mantras mais repetidos é“ vamos investir na base”... quem é louco de dizer que isso está errado? O problema é que a sugestão seguinte é uma utopia. Todos assistimos a uma reportagem maravilhosa do Jornal Nacional mostrando o“ Champs”, o Campeonato Nacional Escolar da Jamaica, e viramos especialistas em promoção de talentos...“ Copiem o Champs”, e estaria aí a solução de todos os problemas.
Mas temos os nossos Champs! Campeonatos Brasileiros Escolar, Mirim, Menores e Juvenis, Olimpíadas da Juventude... o que não temos vem antes dos Champs, o que não temos é o Esporte Escolar de verdade! E aí a coisa fica feia, porque embora todos do Esporte o queiram dentro da Escola, ELA NÃO NOS QUER! Não dá para enfiar goela abaixo dos secretários de Educação, da diretora ou dos professores, nem por decreto da presidente da República! Nosso Esporte Escolar tem sido desconstruído há pelo menos 35 anos, todos os profissionais de Educação Física formados no Brasil nas últimas três décadas sabem do que estou falando.
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