REVISTA PODIUM Revista Podium 06 - Outubro-2015 | Page 26

saúde Consciência e memória corporal Psicologia e a melhora de performance no Centro Nacional de Saltos Horizontais POR CRISTIANA SCALA* O OBJETIVO DA PSICOLOGIA do esporte é melhorar o rendimento dos atletas. No Centro Nacional de Saltos Horizontais da CBAt, em São Paulo, os atletas pas- sam por um programa de performance. Nele, apren- dem técnicas científicas, específicas e voltadas para sua modalidade. Os princi- pais pontos deste programa de Psicologia do Esporte são: • Estabelecimento de metas (planejamento): é funda- mental que o atleta tenha metas ao longo do ano em re- lação às competições, mas também metas a cada treino. É isto que o faz treinar com foco e comprometido. • Controle de ansiedade: ansiedade é ativação corporal, é a intensidade com que o corpo reage às situações. O atleta aprende a utilizá-la, colocando-a em níveis que funcionem a seu favor em momentos de pressão. • Concentração: colocar a atenção no que é relevante para a tarefa. A cada modalidade é preciso definir o que é relevante. Onde, como e por quanto tempo se con- centrar. Uma das técnicas de psicologia do esporte para concentração é aumentar o estímulo do que é relevan- te. Por exemplo, se no treino, o técnico está chamando a atenção do atleta para que ele mantenha o joelho alto durante o salto, uma dica é ele falar baixinho JOELHO, no momento que está realizando o salto. Esta técnica se chama self-talk, e o objetivo é que ele preste mais atenção a este aspecto, que precisa ser corrigido. Para a competição, o foco de atenção muda. Mais do que na técnica, o foco é ir longe, mas olhar para frente não é suficiente para acertar. Há uma série de nuances na concentração que precisam ser trabalhadas durante os treinos, juntamente com os técnicos, para que atinjam o fim desejado. • Visualização de saltos: treino através da imaginação. Quando o atleta imagina o salto há alterações cerebrais, musculares e do sistema nervoso autônomo muito pareci- das com as que ocorrem quando ele faz o salto. Treinar na imaginação melhora aspectos específicos do movimento, prepara o atleta para a competição e ainda ajuda durante a recuperação de lesões, mantendo a memória do salto viva. Ela é uma ferramenta valiosa se usada com critério. • Mudança de Percepção da Situação (desenvolvendo autoconfiança e motivação): autoconfiança e motivação vêm como consequências de acertos e vitórias. Quando tudo está indo bem, estou bem. E quando as coisas não vão bem? O atleta precisa ser capaz de fazer análises críti- cas e reais das situações de treinos e competições. A partir daí definir o que quer e o quanto está disposto a trabalhar. É preciso ter convicção e saber olhar as possibilidades e so- luções do problema. Isto o torna mais responsável, crítico e lutador. Isto dá autocontrole. Estas são algumas das técnicas trabalhadas para que o atleta melhore seu rendimento. Para que o trabalho seja eficaz, no entanto, é fundamental que aconteça na pista e faça parte do treinamento. No Centro, os técnicos Nélio Moura e Tânia Moura dão as diretrizes corretas de movimentos para que se possa trabalhar consciência e memória corporal, além do mo- mento adequado para a introdução de cada técnica na ro- tina do atleta. Se o atleta aprende as técnicas do programa de Psicologia e as introduz na rotina, passa a utilizá-las na- turalmente, qualquer que seja a situação. (*) Cristiana Scala, doutora em psicologia pela USP, trabalha no esporte há 25 anos. Atua no Centro Nacional de Treinamento de Saltos Horizontais da CBAt, em São Paulo. 26] CBAt