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AS TRETAS DO JUIZ

Marcelo Bretas estreia nas redes sociais

MALU GASPAR

“Não fale abobrinhas”, disparou o juiz Marcelo Bretas. O destinatário não era um de seus réus na operação Lava Jato, como o ex-governador Sérgio Cabral. Bretas tampouco estava em audiência. A ordem, via Twitter, era resposta a um internauta desconhecido que acabara de questionar a influência da religião em suas decisões (o magistrado é evangélico).

Desde que passou a julgar os casos da Lava Jato, o juiz se tornou uma celebridade, como seu colega Sérgio Moro. Mas, ao contrário do paranaense, que calcula bem suas declarações e evita responder às críticas, o fluminense não resiste a uma provocação. “Não gosto de deixar nada sem resposta”, admitiu ele em meados de dezembro, numa conversa em

sua sala na 7a Vara Federal Criminal, no Centro do Rio de Janeiro.

Antes de o juiz entrar no Twitter, porém, essa era uma característica conhecida apenas dos mais próximos. Com a estreia recente na rede social, todos passaram a saber que Bretas não foge de tretas – um termo que se popularizou na internet como sinônimo de briga ou polêmica (originalmente quer dizer “astúcia” ou “ardil”).

Mas, se para a maior parte dos usuários uma treta nas redes sociais rende no máximo uma leve chateação, para Bretas trouxe ônus adicionais. Outros magistrados e investigadores da Lava Jato pediram que ele parasse com as discussões e a Corregedoria da Justiça já o avisou de que ele não será mais juiz exclusivo da Lava Jato. Vai passar a receber também processos de outros casos.

Nas primeiras semanas no Twitter, o juiz se envolveu em polêmicas variadas. Além do episódio das abobrinhas, debateu com blogueiros de esquerda, como Luis Nassif e o editor do site O Cafezinho, o jornalista Miguel do Rosário, que publicara um post intitulado “Bretas, o monstro que a Lava Jato pariu no Rio”. Em resposta, o magistrado postou emojis de monstrinhos e gargalhadas.

Mas a coisa ficou séria quando, nos primeiros dias de dezembro, Bretas publicou uma foto em que aparecia segurando um fuzil após um treinamento de segurança (o juiz só anda escoltado). Na legenda, agradeceu à Polícia Civil pelo exercício, à Polícia Militar pela escolta e a um desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro pelo apoio. “Estamos juntos!”, escreveu. Para o juiz, era uma postagem inocente. “Eu não estava a trabalho, era uma coisa pessoal”, justificou-se. “Mas causou mesmo certo incômodo.”

Incômodo é eufemismo: a postagem deixou de cabelo em pé investigadores da Lava Jato, outros juízes e ministros do STJ, que ligaram para a Corregedoria da Justiça reclamando da postura de Bretas. Contrariou até as funcionárias de seu gabinete. “Elas se reuniram e fizeram um complô contra mim”, contou o juiz. “Disseram que, se eu não tirasse a foto, pediriam pediriam demissão coletiva.”

De início, Bretas achou tudo um exagero. Depois, cedeu. “Demorei a entender que era impossível desvincular a minha função de juiz do perfil do Twitter. Mas reavaliei e entendi que estavam certos.” Dali em diante o juiz mudou de postura na rede social. Passou a apagar quase todas as postagens que publica. Trocou o retrato à paisana que ilustrava seu perfil por uma imagem em que aparece usando toga (e depois já trocou por outra foto, de terno). Fixou no alto de sua página um tuíte com dois versículos tirados da Bíblia, do livro de Provérbios:

"Quem dá uma resposta

séria a uma pergunta tola é tão tolo como quem a fez"

E mais:

Bretas parabeniza Moro por aceitar

Ministério da Justiça.

entrevista

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