Revista Panorama #4 Abril.2014 | Página 26

LADO B ] O QUE É QUE ESSE BAIANO TINHA? CANTOR DAS COISAS DA BAHIA, DOS PESCADORES E DO MAR, DORIVAL CAYMMI FARIA 100 ANOS EM ABRIL DA REDAÇÃO arina, Samba da Minha Terra, Maracangalha, Saudade da Bahia, É Doce Morrer no Mar, O Que é Que a Baiana Tem?, Suíte dos Pescadores e Modinha Para Gabriela são apenas algumas das músicas que eternizaram Dorival Caymmi. Compositor e cantor dos costumes da Bahia, dos pescadores e do mar, ele faria 100 anos no dia 30 de abril. Nascido em Salvador em 1914, Caymmi era filho do funcionário público Durval Henrique Caymmi – neto de um italiano que veio para o Brasil para trabalhar na construção do Elevador Lacerda, inaugurado em 1872 – e de Aurelina Soares Caymmi, descendente de portugueses e africanos. Seu pai tocava piano, violão e bandolim. O vozeirão de Caymmi começou a ser lapidado cedo: Ainda menino, ele começou a cantar em um coro de igreja, como baixo-cantante. Com 13 anos, Dorival Caymme interrompeu os estudos, no primeiro ano ginasial, para trabalhar como auxiliar de escritório na redação do jornal O Imparcial. Com o fechamento do jornal, em 1929, torna-se caixeiro-viajante, vendendo bebidas. Nessa época, aprende a tocar violão e compõe suas primeiras canções, até que, em 1930, escreve sua primeira música, "No Sertão". Com 20 anos, torna-se cantor e violonista na Rádio Clube da Bahia e em 1935 estréia o programa "Caymmi e Suas Canções Praieiras". Com 22 anos, vence, como compositor, um concurso de músicas de carnaval com o samba "A Bahia Também Dá". Gilberto Martins, diretor da Rádio Clube da Bahia, o incentiva a seguir carreira no sul do país. Em abril de 1938, aos 23 anos, Caymmi, viaja de ita (navios da Companhia Nacional de Navegação Costeira, que transportavam cargas e passageiros de norte a sul do Brasil) ao Rio de Janeiro, para conseguir um emprego como jornalista e fazer o curso preparatório de Direito. Com a ajuda de parentes e amigos, fez alguns pequenos trabalhos na imprensa, exercendo a pro- M [ 26 ABRIL D E 2 0 1 4 fissão em O Jornal, do grupo Diários Associados. Conheceu, nessa época, Carlos Lacerda e Samuel Wainer. Foi apresentado ao diretor da Rádio Tupi, e, em 24 de junho de 1938, lá cantou duas composições. Saiu-se bem como calouro e começou a cantar dois dias por semana, além de participar do programa Dragão da Rua Larga, no qual interpretou O Que é Que a Baiana Tem?, composta naquele ano. O samba é incluído no filme Banana da Terra, interpretado por Carmen Miranda, e torna-se um sucesso. A repercussão desta música muda a vida de Carmen e de Caymmi. A "Pequena Notável" inicia a fase hollywoodiana de sua carreira e o baiano vai para a Rádio Nacional, onde conhece a cantora mineira Adelaide Tostes, a Stella Maris, com quem se casa, em 1940, e tem três filhos – Nana, Dori e Danilo –, todos músicos. Nas duas décadas seguintes, emplaca sucessos como "Samba da Minha Terra" (1940), "Rosa Morena" (1942), "Marina" (1947), "Não Tem Solução" (1952), "João Valentão" (1953) e "Maracangalha" (1956). Em 60 anos de carreira, Dorival Caymmi gravou cerca de 20 discos, mas o número de versões de suas músicas feitas por outros intérpretes é praticamente incalculável. A busca pela perfeição determinava seu "timing" para compor – muitas vezes levava anos para finalizar uma música – e rendeu-lhe a injusta fama de preguiçoso. E, como se isso não bastasse, nasceu um dia antes do Dia do Trabalho. Sua obra, considerada pequena em quantidade, foi muito bem definida pelo conterrâneo Caetano Veloso: “Escrevi 400 canções