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LiteraLivre Edição Especial nº 1
Cassiano resolve se deitar. Quem sabe o sono vem e leva toda essa aflição.
Amanhã é outro dia...
Bobagem! Nem deitado consegue sossego. A cama é um suplício quando está
ansioso! Parece que vem vindo alguém... Ainda bem, é a mãe!
Tem vontade de correr, jogar-se em seus braços, esquecer toda aquela
angústia, mas não tem costume! Não quer que ela saiba que sentiu medo. Já
está tão baqueada, chega a dar pena! Ele não se acha no direito de levar
queixume algum até ela. Tem de ajudá-la, isto sim!
- Cassiano, cadê o pai?
- Ainda não voltou. Saiu cedo e não falou nada...
- E Clarinha?
- Já saiu. Deve ter ido na casa...
- Deixa pra lá, filho... Já comeu?
- Já, mãe.
Nem bem entra e pega na arrumação. Clarinha, ultimamente, tem sido mais
desleixada com a casa. Está uma baderna!
Cassiano percebe que a mãe, a todo instante, olha pela fresta da porta.
Também está preocupada com a demora do pai. Que será que aconteceu?
Nunca faz isso! Sabe que a família se sente desprotegida à noite, sem ele. Seu
pai podia ser aventureiro, mas tinha muito cuidado com eles. Não fazia nada, é
verdade, mas estava sempre presente. Não tinha vícios, ainda bem! Na
situação em que estão agora, seria um caos ainda maior se ele não fosse
comedido! Não bebia nunca. Admirável em meio a tantas decepções, o pai
mantinha caráter firme feito rocha. Não buscava refúgio em vício algum, nem
em seus sonhos se refugiava mais! Hoje tem os pés fincados no chão, os
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