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LiteraLivre Edição Especial nº 1
Sem Sinal
Maria Rosa de Miranda Coutinho
Joinville/SC
A mulher rude e de poucas palavras havia enfim decidido fazer parte do
mundo tecnológico. Esquecida pelo tempo, pois apenas trazia alguns fios
brancos de cabelo e conservava uma pele ainda jovial, esqueceu-se ela
também de se atualizar no novo século que chegou muito depois do seu
nascimento, de sua vivênci a de infância e de um difícil amadurecimento.
Maria foi o nome que recebeu e nada mais a ele foi acrescentado. Estava
escrito somente em seus documentos e talvez um dia seja inserido em sua
lápide.
Na velha casa, separou suas economias. Contou e recontou cada nota de
dinheiro que guardava no fundo da gaveta de sua cômoda.
Herdou de sua família a cansativa atividade de feirante e embora
reservada, sabia oferecer as muitas hortaliças que cultivava em seu quintal
com o valor apropriado. Não conseguia, contudo, imaginar quando abandonaria
tal lida.
Maria caminhou algum tempo pelo centro da cidade até deparar com a
loja pretendida. Entrou cabisbaixa sem dirigir-se a ninguém. Tinha receio dos
olhares e das perguntas. Sua linguagem revelava seu desconhecimento à
modernidade, o que a colocava em um universo à parte.
Os estranhos objetos estavam lá, expostos nas vitrines tão alheios a tudo
quanto aquela mulher. Sua solidão, apressada pela viuvez precoce, fez dela
ainda mais indiferente às novidades urbanas, e agora estava ali envolta ao que
não conhecia.
Subitamente foi interrogada sobre sua busca. Desafiada pela insistência
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