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LiteraLivre nº 9 – Maio/Jun de 2018
silenciosamente marchando em direção à praça. Onde antes jazia a estátua de
Araribóia, hoje ficavam os alto falantes dos quais vinha a gravação da prece a ser
repetida. A voz monocórdia envolta em ruídos de rádio começou:
—Pai nosso que está no céu…
Marta ninava a criança em seus braços. Mexia a boca mecanicamente enquanto
os olhos iam de um lado para o outro na multidão. Alguém puxa-lhe o braço.
—Marta!
—Mãe! Toma, leva o bebê. Fica dentro de casa até que eu volte. Vai! Vai!
A mulher, esgueirando-se, some no meio das pessoas. A oração continua:
—Perdoai nossas dívidas… -no entanto, a voz é abafada por um canto.
—Ai, ai, ai, ai! - brada um homem, há décadas não se ouvia aquele ritmo nas
ruas. Outras vozes juntaram-se em coro:
—Está chegando a hora, o dia já vem raiando, meu bem, tens que ir embora! -
confetes voariam por bem ou por mal. A insurreição.
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